Investigações da Polícia Federal apontam que a instrumentalização da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para interesses políticos durante o governo do então presidente Jair Bolsonaro foi mais profunda do que se acreditava. As diligências revelam que foi montada uma estrutura paralela, com uso dos mecanismos da agência, para espionar opositores ou críticos da gestão anterior do Poder Executivo.
Delegados e agentes da PF cedidos à Abin se empenharam em monitorar os passos de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), deputados, jornalistas e agentes públicos.
O motivo principal, segundo a PF, era beneficiar a família Bolsonaro e aliados do ex-presidente, além de criar falsas narrativas que seriam usadas contra políticos e integrantes da mais alta Corte do país — um dos objetivos era tentar ligar os ministros Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes à facção Primeiro Comando da Capital (PCC).
No centro da articulação, de acordo com a Procuradoria-Geral da República (PGR), estava o então diretor-geral da Abin, Alexandre Ramagem, atual deputado federal pelo PL (RJ) e pré-candidato à prefeitura do Rio de Janeiro. Nesta quinta-feira (25/1), o gabinete dele, na Câmara, o apartamento funcional, em Brasília, e uma residência ligada a ele no Rio de Janeiro foram alvos de buscas.
Agentes também estiveram em endereços ligados a outros sete integrantes da Polícia Federal. Ao todo, cumpriram-se 21 mandados de busca e apreensão. Foram recolhidos documentos, celulares, computadores e pen drives que podem gerar novas ações judiciais e abrir linhas de investigação.