“Temos que entender que isso que a gente chama de ‘mercado’ possui capacidade de intervenção na política econômica por meio da ampliação da incerteza econômica com movimentos especulativos em determinados momentos”, explica Rodriguez.
“Em seguida, essas posições foram sustentadas justamente para sinalizar ao Galípolo que não há outro caminho em sua presidência do Banco Central que preservar os aspectos da gestão anterior, criando um destino selado para a nova gestão”, afirma.
“A pressão no dólar é também uma forma de demonstrar à nova diretoria do Banco Central que haverá pouca tolerância a uma flexibilidade na política monetária, por exemplo, uma reversão na taxa de juros.”
“O fator mais importante para essa queda do dólar é que o movimento especulativo que pressionava a alta perdeu força no mês de janeiro, na medida em que aquela cotação não era compatível com os nossos resultados comerciais, padrão de investimento e outras questões mais estruturais da economia brasileira”, destaca Rodriguez.
“Mas não há motivo para otimismo com relação a esses investimentos, pois eles também vão embora da mesma forma que chegam ao primeiro sinal de mal-estar econômico”, sublinha o especialista.
“Os consumidores sentem um aumento do poder de compra com importados mais baratos. É uma questão que envolve um conflito distributivo entre setores da economia. Por outro lado, a volatilidade do dólar muitas das vezes é pior do que o dólar alto.”
“A gente tem basicamente dois tipos de moedas: as conversíveis e as não conversíveis. As conversíveis estão no topo. É como se houvesse uma pirâmide internacional hierárquica de moedas. O dólar está lá no topo da pirâmide, seguido pelo euro, pelo yuan e pela libra esterlina. Mesmo o renminbi chinês não está no topo, porque não é uma moeda conversível, mas é uma moeda que tem maior liquidez do que o real”, explica.
“Isso mostra que essa volatilidade, quando o câmbio já está recuando para nível abaixo de 6 [reais] nos últimos dias, foi muito mais uma incerteza especulativa do que algo concreto de ruim que tem ocorrido na economia brasileira.”
“Eles vêm, mas não vêm realmente para ter uma aplicação perene no Brasil. O que a gente deveria estar realmente esperando seria a entrada de capitais de longo prazo para investimentos produtivos por parte das filiais multinacionais e coisas parecidas. Esse ainda eu não vejo que seja o momento adequado, principalmente porque o Banco Central está sinalizando com ciclo de aumento de juros o que pode mais à frente sinalizar também que a economia vai desacelerar.”
“A entrada de Trump é uma insegurança enorme. Ele entrou falando em baixar juros, começou a ameaçar o presidente lá do FED, o banco central deles. Acho que a principal razão está aí.”
“A erosão [da popularidade] de Lula em grande parte é por causa da inflação dos alimentos, que é muito alta. […] A esquerda em geral não reconhece que existe um problema fiscal a ser resolvido. Quer resolver com uma solução mágica, só que solução mágica não existe porque o Congresso não é dominado pela esquerda. Então o [Fernando] Haddad está imobilizado, ele não sabe o que fazer.”
“É normal uma desvalorização [do real] no final do ano, porque tem a realização de lucros das empresas, e elas mandam recursos para o exterior. Mas, em grande medida, foi uma reação do mercado ao que se propagou na época, um descontentamento do mercado financeiro em relação ao pacote de ajuste fiscal que foi anunciado. Então foi uma forma de o mercado financeiro também pressionar o governo brasileiro por um ajuste fiscal mais forte”, explica.
“O que o mercado financeiro pede para reduzir ou para não subir a taxa de juros seria uma política fiscal austera, uma política de corte de gastos. Isso também é outra coisa que o governo tem feito. O governo tem que procurar nesse jogo muito difícil de alocação de recursos que não estão abundantes dentro da economia. Nesse jogo, ele tem que ponderar como garantir emprego, renda, saúde, educação, sem que isso seja visto ou sentido pelo mercado como se fosse excesso de gastos e um problema na condução da política fiscal”, frisa.
Sputnik Brasil