Um erro grave com impactos negativos muito além das fronteiras norte-americanas. É como especialistas em climatologia, cientistas e organizações não governamentais reagiram ao anúncio do presidente Donald Trump de retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris. Embora fosse esperado, o ato, acrescentado da declaração de que o país decreta "emergência energética nacional" causou indignação, especialmente em um momento no qual o estado da Califórnia é consumido por incêndios florestais.
"Minha casa está queimando — Los Angeles está pegando fogo. Bairros inteiros estão sufocando com cinzas, vidas estão sendo perdidas e mais de 130 mil foram deslocadas em uma única semana. Agora não é hora de recuar em iniciativas globais que visam nos colocar em um caminho para um futuro habitável", reagiu Sim Bilal, codiretor da ONG Youth Climate Strakes Los Angeles. "A decisão de Trump enfraquece até mesmo a mínima responsabilidade internacional que tem sido duramente conquistada em todo o mundo."
No discurso de posse, Trump não apenas assegurou a retirada dos Estados Unidos do acordo climático, como havia feito em 2017. Ele repetiu um de seus lemas de campanha — "Perfure, baby, perfure" — para deixar explícita a nova política energética norte-americana, que intensificará a exploração de petróleo e hidrocarbonetos. Esses combustíveis são os principais responsáveis pela formação de gases de efeito estufa e, segundo cientistas, têm de ser substituídos por fontes limpas.
Segundo o Observatório Metereológico Mundial (OMM), da Organização das Nações Unidas (ONU), e do Observatório Copernicus, da Europa, 2024 foi o ano mais quente já registrado, e o primeiro a ultrapassar a meta de 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais, estabelecida pelo Acordo de Paris.
Na administração do antecessor de Trump, Joe Biden, os Estados Unidos se comprometeram a reduzir entre 61% e 66% a poluição por dióxido de carbono até 2050, comparado aos níveis de 2005. Uma estimativa da ONG Carbon Brief é que, com o magnata novamente à frente da Casa Branca, as emissões de gases de efeito estufa adicionem 4 bilhões de toneladas ao inventário norte-americano em 2030. A indústria do combustível fóssil foi um dos principais patrocinadores da campanha do atual presidente, com US$ 75 milhões de doações declaradas.
Reações
Em nota, Basav Sen, diretor de política climática do think tank norte-americano Instituto de Estudos Políticos, destacou que, embora o Acordo de Paris seja falho, sair do pacto climático global é "repreensível". "Em resposta, exigimos que os governos estaduais e locais acelerem a eliminação gradual dos combustíveis fósseis, ao mesmo tempo em que planejam uma transição justa para as comunidades e trabalhadores afetados", afirmou.
Para Ronaldo Christofoletti, professor do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (IMar/Unifesp), a retirada dos Estados Unidos do acordo é, hoje "o elefante branco na sala". "O país é um dos maiores emissores (de gases de efeito estufa) e, pior do que apenas sair do Acordo de Paris, é ter um governante que diz que vai emitir mais gases, deliberadamente", avalia.
Christofoletti, integrante da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (Recn), acredita que os planos de Trump comprometerão também a contribuição financeira esperada do país para um fundo global de ações de adaptação e mitigação climáticas. Embora criticados por não estabelecer metas ambiciosas na Conferência do Clima do Azerbaijão (COP29), no ano passado, os Estados Unidos concordaram em ratear com outras nações industrializadas US$ 300 bilhões anuais para o mecanismo de compensação aos países mais afetados e que menos contribuíram para as mudanças climáticas até 2035. "O problema é que uma decisão unilateral terá um impacto mundial enorme", sentencia.