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Carta de Abraham Lincoln para Joe Biden e Donald Trump

Joe, renuncie, permita que Kamala Harris seja candidata a presidente estando no poder. Don, não queira ser o Augusto Pinochet dos Estados Unidos. Fique ao meu lado na História

Publicada em 09/08/24 às 08:42h - 11 visualizações

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Carta de Abraham Lincoln para Joe Biden e Donald Trump
 (Foto: Rádio Rir Brasil - Itapuranga-Goias : Direção: Ronaldo Castro - 62 9 9 6 0 8-5 6 9 5 )

Falo do mundo dos mortos, o qual habito há 159 anos, desde 15 de abril de 1865. Vivi apenas 56 anos, mas tive ao menos quatro grandes alegrias: ter presidido os Estados Unidos, ter acabado com a escravidão na terra do bardo Walt Whitman e do prosador Richard Wright, ter unido o Norte e o Sul e ter lido as peças e a poesia de Shakespeare.

Perambulava pelo Céu, quando me encontrei com o escritor brasileiro Machado de Assis (1839-1908), que, depois de comentar o furor em relação aos romances “Memórias Póstumas de Brás Cubas” e “Dom Casmurro” — derivado da publicidade gratuita de Courtney Novak, a Harold Bloom do TikTok —, me disse que eu deveria escrever cartas para Joe Biden e Donald Trump, sim, vocês mesmos. Perguntei: “Devo?” Joaquim Maria, que biografou o Brasil (e suas mentalidades) por meio da literatura, acrescentou: “Observe que Winston Churchill e Franklin Delano Roosevelt estão cansados de conversar com Charles de Gaulle, um chato de galochas, e certamente gostarão de ouvi-lo”.

Machado de Assis; “conselheiro” de Abraham Lincoln

Deixei “Rei Lear” (sobre o poder, a riqueza e a velhice) numa mesinha, a mesma em que estava “Memorial de Aires” — que está sendo lido por Martin Luther King Jr., Ralph Ellison (autor do imperdível romance “Homem Invisível”; quem não leu não sabe o que é boa literatura) e James Baldwin —, e aproximei-me da rodinha dos três gigantes do século 20. De Gaulle pediu licença, pois precisava conversar com André Malraux e Konrad Adenauer.

Roosevelt, ao me ver, disse: “Sente-se, grande Abe”. Churchill apertou minha mão e perguntou: “A cabeça ainda dói?” Como sabem, John Wilkes Booth, um confederado de Maryland, atirou na minha cachola, num teatro de Washington. Respondi: “Não mais. Mas estou preocupado com os Estados Unidos”. Roosevelt e Churchill falaram ao mesmo tempo: “Por que não escreve uma carta para Biden e Trump aconselhando-os?”

Com tanta recomendação, pedi licença a Chico Xavier, o grande brasileiro de Pedro Leopoldo e Uberaba, e comecei a escrever esta carta. Vamos lá, então.

William Faulkner: maldição dos Estados Unidos é a (brutalidade da) escravidão | Foto: Reprodução

Caros conterrâneos, antes de apresentar breves conselhos, “de grátis”, mergulhem comigo na história dos Estados Unidos.

Em 1861, estando eu na Presidência da República, estourou a chamada a Guerra Civil Americana — também conhecida como Guerra de Secessão — entre o Norte, federado, e o Sul, confederado.

Os Estados Unidos eram, já então, um país capitalista, mas o reinado global era da Inglaterra. O mundo — inclusive o Tio Sam — estava a serviço de Sua Majestade. O inglês dominante era o do rei e não o do presidente.

O Norte começava a desenvolver sua indústria e, aos poucos, se tornava um concorrente nem tão mignon da Grã-Bretanha. O Sul, pelo contrário, era agrário e abastecia a indústria têxtil da Inglaterra com um algodão de primeira linha.

O romance de Ralph Ellison (sobre os negros) deveria ser lido por Joe Biden e Donald Trump; é imperdível | Foto: Jornal Opção

Pode-se sugerir que o Sul era quase uma colônia inglesa. Em busca de um lugar mais amplo no universo, a nossa intenção era criar uma economia competitiva — produtora não apenas de matérias-primas, como algodão. Nossa ideia era, para o pessoal do Sul, uma ideia fora do lugar, diria Roberto Schwarz, o notável intérprete de Machado de Assis, o prosador que, no Céu, se tornou amigo de Dostoiévski e passam o tempo inteiro falando de doenças — epilepsia na primeira fila — e literatura. O primeiro defende Shakespeare, cujo “Otelo” inspirou a feitura de “Dom Casmurro”, e o segundo é apóstolo de Púchkin.

O Sul estava satisfeito com seu lugarzinho no globo, como vendedor de commodities para os ingleses. O Norte queria uma unidade produtiva, manufatureira. Resistindo à política de meu governo, o Sul começou a guerra para separar-se e constituir outra nação.

Aceitamos a guerra. Não fugimos dela. No percurso, abolimos a escravidão, que, como o algodão, era o sustentáculo da economia do Sul. A ira aumentou e fui assassinado sobretudo por ter decidido acabar com a desumanidade que era a escravidão.

Nós, os ianques, ganhamos do Sul e o moderno capitalismo nos Estados Unidos é filho da Guerra Civil Americana. O país, por assim dizer, renasceu em 1865.

Joe e Don, acho que posso chamá-los assim, sem formalidades, acredito que são admiradores do escritor sulista William Cuthbert Faulkner (1897-1962 — viveu pouco, 64 anos). Bill legou duas obras-primas literárias — “Absalão, Absalão!” e “Luz em Agosto” — que mostram a escravidão como a maldição da sociedade americana. Comecei a ler a obra do homem de New Albany, no Mississippi, por indicação da grande Toni Morrison, autora do romance “Amada” (uma das mais belas e dolorosas obras da literatura galáctica).

Franklin Roosevelt e Winston Churchill salvaram a democracia no século 20 | Foto: Reprodução

Acabei sendo morto por um radical confederado devido ao fato de ter abolido a escravidão. O que Wilkes Booth não sabia é que meu projeto era contribuir, com a maior boa vontade, na reconstrução do país, sobretudo do Sul. Eu queria pacificar os ânimos. Com a minha morte, os dois lados mantiveram-se, por algum tempo, radicalizados. Tanto que Sérgio Buarque de Holanda me contou que vários confederados, mais de 3 mil, mudaram-se para o Brasil. Para escapar às perseguições e ao trauma da derrota. Alguns deles foram para São Paulo, onde fundaram a cidade de Americana, e vários outros se instalaram em Volta Redonda e no Pará. Conta-se, no Céu, que a cantora Rita Lee Jones ganhou o sobrenome de Lee por causa do general sulista Robert Lee, que, assim como Ulysses S. Grant e George Sherman, meus implacáveis guerreiros, admirávamos.

Bem, está ficando um pouco chato. Então, caros Joe e Don, mudemos um pouco o foco. O francês Alexis de Tocqueville (1805-1859 — viveu 53 anos, menos do que eu) escreveu um livro extraordinário, “A Democracia na América”. Acredito que os dois já leram. Marcos Maciel me contou que Fernando Henrique Cardoso e Irapuan Costa Junior, felizmente vivos e lúcidos, leram e apreciaram.

Quem pode falar com mais precisão sobre Tocqueville é a filósofa Hannah Arendt, minha vizinha de bairro no Céu. Mas, mesmo não sendo especialista, vou dizer algumas palavrinhas sobre o jurista, pensador e historiador da terra de Flaubert.

Hannah Arendt e Alexis de Tocqueville: a filósofa alemã e o historiador francês perceberam que a vitalidade dos Estados Unidos advém da estabilidade de suas instituições | Fotos: Reproduções

Tocqueville planejava estudar o sistema penitenciário dos Estados Unidos, mas acabou analisando, de maneira ampla, a sociedade americana. De maneira perspicaz, percebeu que, diferentemente, da Revolução Francesa de 1789, que ocorreu depois da Independência dos EUA (1776), a Revolução Americana, por assim dizer, se tornou mais sólida porque era amparada na democracia, na formação de instituições sólidas acatadas por seus cidadãos.

A Revolução Francesa, que ocorreu 13 anos depois da Independência americana, derivou para a violência e, por isso, caiu cedo (como Saturno, a revolução jacobina devorou seus próprios filhos). O poder da esquerda francesa não derivava de instituições democráticas sólidas e do voto, por exemplo, e sim da violência extremada. Adversários eram presos ou guilhotinados. Não havia tolerância com as diferenças político-ideológicas.

George Washington, Thomas Jefferson, John Adams e outros constituíram, desde o início, uma democracia amparada pela Constituição, pelas leis. 248 anos depois da Independência, o pacto democrático, ancorado na prevalência da força das instituições, permanece ativo, vivo, sólido. Por isso, caros Joe e Don, nunca houve um golpe de Estado nos Estados Unidos. Só arranhões — sem gravidade.

Theodore Roosevelt e Ronald Reagan: os dois presidentes dos Estados Unidos foram baleados e a democracia sobreviveu incólume | Fotos: Reproduções

Joe e Don, as sociedades, mesmo as democráticas (li nos anais da Suécia que o primeiro-ministro Olaf Palme foi assassinado), não estão imunes a certa violência. Mas o assassinato de presidentes (e outros, como Theodore Roosevelt e Ronald Reagan, foram baleados) não significa, em nenhum momento, que os Steites deixaram de ser democráticos. Não há nenhuma evidência de que a democracia da terra de Joyce Carol Oates e Siri Hustvedt (Paul Auster, que acaba de chegar, me recomendou sua obra) corre risco. Que me perdoem alguns Ph.Ds de Harvard, que confundem os ventos da extrema-direita com terremotos políticos de altas escalas.

Don e Joe, li, no livro “Irmãos — A História Por Trás do Assassinato dos Kennedy”, de David Talbot, que militares chegaram a pensar num golpe contra o presidente John Kennedy. Mas o golpe não ocorreu. Jack Kennedy, o marido da princesa Jackie Kennedy, da corte de Camelot, foi assassinado, em 1963. O país não chafurdou na anarquia. Pelo contrário, Lyndon Johnson assumiu a Presidência e houve um avanço excepcional nas pautas em favor dos negros. Tanto que o relacionamento do democrata com Martin Luther King Jr. era cordial. James Baldwin, autor do notável “Notas de um Filho Nativo” (li por indicação de Florestan Fernandes e Paulo Francis, ou seja, de intelectuais de esquerda e de direita), está ao meu lado, assentindo, meio cético, por certo.

A morte de um presidente — assassinado ou não — nunca derrubou a democracia americana. Certas violências de lobos solitários são, em geral, isoladas, não sistêmicas.  Joe e Don, acabo de receber um cutucão de Malcolm X: de fato, se é sólida, a democracia americana não é perfeita — como nada é. A maldição americana continua: os negros permanecem sendo tratados não como cidadãos, e sim como quase-cidadãos e, em vários casos, como não-cidadãos. Tanto que policiais, brancos, se julgam no direito, não de prender, acatando a lei, quando for o caso de aplicá-la, e sim matando-os.

John Kennedy e Lyndon Johnson: a pauta dos direitos civis avançou com o texano | Foto: Reprodução

Joe e Don, o historiador Thomas Skidmore, meu ex-vizinho, me pede a palavra, e Chico Xavier sugere que o ouça com atenção. O brasilianista, que, de cara, se tornou amigo de Darcy Ribeiro, Henfil e Betinho, diz que é preciso considerar que os Estados Unidos apoiaram várias ditaduras, notadamente no século 20. De fato, apoiaram e, até, patrocinaram. São, por assim dizer, os erros da Guerra Fria. Aqueles que eram inimigos do comunismo, ainda que fossem excrescências, como Augusto Pinochet, eram amigos dos americanos. Um equívoco, sem dúvida, mas que os políticos, republicanos ou democratas, consideraram como derivado de uma contingência histórica.

Mas, depois de perorar tanto, quais os conselhos que gostaria de oferecer a vocês?

Joe, você é um presidente decente e democrata, que está contribuindo para fortalecer a economia americana. Darei a tu o seguinte conselho: vão usar sua idade para derrotá-lo e atacá-lo. Apesar de seus problemas, faz um governo de primeira linha, mas a idade, quiçá o início da senilidade, vai prejudicá-lo eleitoralmente. Então, recomendo o seguinte: renuncie ao mandato (e não só à reeleição), agora, e passe o comando do país para Kamala Harris. Se a democrata for candidata a presidente, estando no poder, não assustará parte do eleitorado conservador (que teme mulheres e negros no poder) e poderá ser reeleita.

Don, tu sabe que não se vive para sempre. Aos 78 anos, tem de pensar no seu legado. Então, se for eleito presidente, não conspire contra a democracia. Pelo contrário, opere para melhorar a vida dos americanos e fortaleça as instituições. Se eleito, ficará quatro anos no poder, e não poderá mais disputar nenhuma eleição presidencial. Então, é hora de esquecer os arroubos autoritários — beirando à antidemocracia — e, se vencer o pleito, governar como democrata. Eu (e não estou sendo cabotino), Roosevelt (o Franklin), Kennedy e Obama, para citar apenas quatro democratas, estamos bem na História. Faça parte do nosso time. Não queira ser o Pinochet ou o Rafael Videla dos Estados Unidos.

Joe e Don, adeus, com o abraço de

Abe Lincoln

Do Céu, 21 de julho de 2024





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