Sons que se assemelham a tiros interromperam ontem o comício do ex-presidente Donald Trump, em Butler, na Pensilvânia, nos Estados Unidos. Imagens de um vídeo mostram que Trump cai no chão do palanque onde estava, fica assustado e, ao levantar havia sangue no rosto e a orelha direita parecia ferida. Foi atingindo de raspão perto do rosto. Rapidamente, ele foi cercado por agentes secretos do FBI, que o retiraram do local. Antes de descer do palanque, o ex-presidente levanta o punho direito em sinal de vitória e é aplaudido pelos presentes.
O porta-voz de Trump, Steven Cheung, informou que ele estava fora de perigo e foi atendido em um centro médico local. Para o jornal Washington Post, o episódio se trata de uma "tentativa de homicídio". A Fox TV confirmou que uma pessoa morta, além do atirador, outra ficou gravemente ferida. Até a mais recente atualização desta reportagem não havia detalhes sobre a identidade do atirador.
Poucas horas depois do atentado, Trump se manifestou na sua rede Truth Social. Ele agradeceu ao Serviço Secreto e às autoridades pela "rápida resposta ao tiroteio". "Quero estender minhas condolências à família da pessoa morta no comício, e também à de outra que ficou gravemente ferida. É incrível que tal ato ocorra em nosso país", escreveu. "Eu fui atingido por uma bala que atravessou a parte de cima da minha orelha direita. Soube imediatamente que algo estava errado ao ouvir o barulho de zumbido, tiros e sentir a bala passando pela pele. Muito sangramento ocorreu, e percebi o que tinha acontecido. Deus abençoe a América!", acrescentou.
Nas redes sociais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva repudiou o atentado. "O atentado contra o ex-presidente Donald Trump deve ser repudiado veementemente por todos os defensores da democracia e do diálogo na política. O que vimos hoje é inaceitável", reagiu Lula.O ex-presidente Jair Bolsonaro disse que Trump era o "maior líder mundial do momento": "Nos veremos na posse".
Donald Trump Jr., filho do ex-presidente, avisou nas redes sociais: "Ele nunca vai parar de lutar para salvar a América". As manifestações de apoio e solidariedade a Trump foram imediatas. O ex-presidente Barack Obama usou também usou o X para se manifestar, condenou a violência política e disse estar "aliviado" por Trump não ter se ferido gravemente. Afirmou que ele e a ex-primeira-dama se solidarizam ao ex-presidente.
O governador democrata da Pensilvânia, Josh Shapiro, condenou a violência política em uma declaração publicada no X após o suposto ataque, e disse ter mobilizado agentes para imediata apuração. O episódio ocorreu a dois dias do início da Convenção Nacional Republicana, que confirmará o nome de Trump e ele vai anunciar o nome do vice-presidente na sua chapa.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, reagiu no X: "Sara e eu ficamos chocados com o aparente ataque ao presidente Trump. Rezamos por sua segurança e rápida recuperação". O presidente da Hungria, Viktor Orbán, também usou as redes sociais. "Meus pensamentos e minhas orações estão com o presidente Trump." A presidente de Honduras, Xiomara Castro, lamentou a "violência política no processo eleitoral". Entre os políticos norte-americanos, parlamentares republicanos e democratas prestaram solidariedade.
Especialistas analisam os impactos do atentado. Allan Lichtman, historiador político pela American University (em Washington), disse ao Correio não esperar nenhum efeito imediato nos próximos 114 dias de campanha. "Ainda é cedo para dizer que Biden perderá as eleições. Creio que a disputa será muito apertada, no fim das contas. Se foi um atentado, e acho que não, Trump usará o incidente a seu favor."
"Tivemos incidentes como esse antes. Em 1912, quando disputava como ex-presidente e candidato por um terceiro partido, Theodore Roosevelt foi atingido no peito, mas a bala atingiu o seu estojo de óculos e o seu manuscrito para discurso. Ele não ficou gravemente ferido e prosseguiu com o discurso", lembrou. Em seguida, o historiador afirmou que: "Um atirador disparou contra o presidente eleito Franklin D. Roosevelt em 1933. O tiro não o atingiu, mas matou o prefeito de Chicago, Anton Cermak. Também houve o atentado contra Gerald Ford, quando ocupava a Casa Branca em 1975".
Para Lichtman, a violência política deve ser rechaçada pela sociedade americana. "Eu espero que isso leve para as casas de todos os americanos o horror da violência cometida por armas de fogos neste país, que resulta em 15 mil mortes anualmente. Os EUA precisam lidar com as armas de fogo. Talvez esse incidente horrível deflagre algum tipo de ação nesse sentido."
Lichtman se sensibiliza com o ex-presidente Trump. "Eu soube que ele está bem e fico contente por isso." Por sua vez, James Naylor Green, historiador político da Universidade Brown (em Rhode Island), admitiu não ter a menor ideia sobre se o incidente foi real ou montado. O historiador ressalta que há uma certa admiração das pessoas por teorias de conspiração, mas é preciso ter cautela. "As pessoas adoram teorias da conspiração, mas é muito cedo para saber. É claro que Trump ganha muita simpatia, agora, por todo o mundo. Isso deve reforçar o trabalho dentro da base do Partido Republicano. Mas não acho que isso afetará as pessoas que estão de fora da base eleitoral", comentou, por telefone. Green advertiu que faltam menos de quatro meses para o fim da campanha eleitoral e que, durante esse período, muitas coisas podem acontecer."
A história política dos Estados Unidos é marcada por episódios de assassinatos dos presidentes da República. Abraham Lincoln foi atingido em 1865, enquanto assistia a uma peça teatro em Washington. James Garfield sofreu um atentado em 1881 e morreu enquanto era operado. Em 1901, William McKinley foi morto em Nova York, enquanto cumprimentava o público. Em 1963, em campanha pela reeleição, John Kennedy foi morto.