“Não votem na ultradireita”: esse apelo foi feito pela Conferência dos Bispos da Alemanha, uma das organizações mais importantes da Igreja Católica no país. O mesmo apelo tem sido feito por pastores protestantes e líderes evangélicos alemães. Para os católicos e evangélicos alemães o nacionalismo de extrema direta é incompatível com as crenças do cristianismo.
A Conferência Episcopal da Alemanha considera o “nacionalismo étnico” como “incompatível com a conceção cristã de Deus e do Homem”.
As palavras são do bispo Georg Bätzing, chefe desta Conferência Episcopal, e foram pronunciadas na sequência de uma reunião da instituição em Augsburg. No documento aprovado, acrescenta-se que “os partidos extremistas de direita e aqueles que proliferam nas margens dessa ideologia não podem, portanto, ser um local de atividade política para os cristãos e também não podem ser elegíveis”.
Declarações políticas desse tipo por parte dos bispos são raras. E isso, de certa forma, reflete o momento tenso numa sociedade que foi reconstruída sob a marca da tragédia e dos horrores do nazismo. O partido AfD, que tem forte retórica xenófoba, é apontado hoje por pesquisas como a segunda força política da Alemanha.
A legenda é com frequência acusada de abrigar neonazistas e vigiada pelas autoridades como uma potencial ameaça à ordem constitucional. O que os bispos alemães dizem é que, partidos assim, “não podem ser um local de atividade política para os cristãos”.
E os bispos alemães vão além:
“A participação em políticas de extrema direita – e particularmente qualquer forma de racismo ou antissemitismo – é incompatível com emprego ou serviço voluntário na Igreja Católica .”.
E só para vocês entenderem o peso dessa declaração: a Igreja Católica é um dos maiores empregadores da Alemanha depois do Estado. Sobretudo por causa de uma ampla rede de hospitais que atendem a maior parte da população.
Os bispos alemães entendem assim que é tempo de quebrar o seu tradicional silêncio sobre a política partidária numa altura em que a extrema-direita alemã, que atualmente tem 78 em 735 deputados, está em alta nas sondagens e que se aproximam eleições regionais em zonas que lhes são favoráveis, nomeadamente a Turíngia, a Saxónia e Brandeburgo.
Antes, em dezembro, também a Igreja Evangélica da Alemanha já tinha tomado posição semelhante declarando que a forma de agir da AfD é anti-democrática:
“Apelamos aos nossos concidadãos, inclusive àqueles que não compartilham da nossa fé, para que rejeitem e repudiem a política da extrema-direita. Qualquer pessoa que queira viver numa sociedade livre e democrática não pode abrigar estas ideias”.
Em janeiro, milhares de alemães foram às ruas para protestar contra a ultradireita após a revelação pela imprensa de uma reunião realizada em Potsdam com a participação de neonazistas e membros da AfD, na qual foi apresentado um plano para a deportação em massa de milhões de imigrantes e “cidadãos não assimilados”.
Com informações do DW e OperaMundi