Enquanto Trump despencava, Angela Merkel ganhou proeminência por seu papel liderando a União Europeia em meio às crises migratórias e, agora, às turbulências causadas pelo processo do “Brexit”. A chanceler alemã se tornou tão influente – e, para muitos, tão merecedora do título normalmente concedido aos ocupantes da Casa Branca – que, durante sua visita a Washington, um dos principais sites políticos americanos, o Politico.com, decretou: “A líder do mundo livre encontra Donald Trump”. O encontro entre os dois dignitários acabou repleto de polêmicas e um dos momentos que mais chamou a atenção foi a recusa de Trump ao aperto de mãos proposto por Merkel durante uma sessão de fotos.
Apesar das crescentes críticas a Trump, nem todos compartilham do entusiasmo com Merkel. Constanze Stelzenmüller, pesquisadora convidada da Brookings Institution de Washington e especializada em política externa alemã, lembra que antes de ser considerada a líder do “mundo livre”, a chanceler precisa se garantir como líder da Alemanha. O país se prepara para eleições em setembro, e as pesquisas apontam Merkel em empate técnico com Martin Schulz, candidato do Partido Social Democrata, que também tem uma plataforma favorável à União Europeia. No caso dos Estados Unidos, é muito cedo para desacreditar o governo apenas pelas posturas de Donald Trump.
“É importante fazer uma distinção entre os Estados Unidos e alguns dos seus líderes, e entender que há diferentes pensamentos mesmo dentro da Casa Branca”
“É importante fazer uma distinção entre os Estados Unidos e alguns dos seus líderes, e entender que há diferentes pensamentos mesmo dentro da Casa Branca”, analisa, em entrevista à Gazeta do Povo.
Stelzenmüller ainda lembra que a própria Angela Merkel não gosta do novo título que a imprensa internacional tem lhe dado: “é importante destacar que Merkel tem se esforçado em dissipar as tentativas de colocá-la como líder do mundo livre, apontando para as limitações muito reais do poder da Alemanha e dela própria”.
Para a pesquisadora, antes de qualquer ambição mundial, tanto Merkel quanto Schulz terão de encarar problemas internos reais (como a crise imigratória) e aqueles que classifica como imaginários: “são os temores impulsionados pela extrema-esquerda e extrema-direita, e pela propaganda russa, de que a Alemanha está sendo prejudicada pelas forças da globalização – e que é possível fazer algo para acabar com elas”.