A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, FAO, divulgou nesta quinta-feira um relatório que enfatiza a importância da mulher nos sistemas agroalimentares.
O estudo explica que acabar com a desigualdade de gênero no setor aumentaria o Produto Interno Bruto global em quase US$ 1 trilhão e reduziria o número de pessoas com insegurança alimentar em 45 milhões.
Segundo a agência, 36% da força de trabalho feminina no mundo atua em sistemas agroalimentares. Na África Subsaariana, 66% das trabalhadoras atuam no setor. No entanto, as condições laborais tendem a ser piores que as dos homens.
Casos de irregularidade, informalidade, intensidade de trabalho e salários inferiores revelam que o papel das mulheres é “marginalizado”. As trabalhadoras também têm menos posse de terra, menos acesso a crédito e treinamento e precisam utilizar tecnologias projetadas para homens.
O relatório indica que, quando as economias passam por períodos de austeridade, as mulheres são as primeiras a serem demitidas. Globalmente, 22% das mulheres nos segmentos não-agrícolas dos sistemas agroalimentares perderam o emprego, no primeiro ano da pandemia de Covid-19, em comparação com 2% dos homens.
O estudo confirma que as mulheres são mais vulneráveis a choques climáticos e desastres naturais, pois as restrições de recursos e as normas de gênero discriminatórias podem dificultar sua adaptação.
Por exemplo, a carga de trabalho das mulheres, incluindo as horas trabalhadas na agricultura, tende a diminuir menos do que a dos homens durante choques climáticos, como o estresse térmico.
Outro ponto de preocupação é a insegurança. Dos países analisados na região da Ásia-Pacífico, Timor-Leste é o segundo colocado no ranking de violência física contra mulheres camponesas. Dentre os países africanos incluídos na amostra, Angola figura entre os 15 com índice mais elevado de agressões.
De acordo com o diretor-geral da FAO, QU Dongyu, as desigualdades de gênero são “endêmicas” nos sistemas agroalimentares. Ele afirma que através do empoderamento feminino “o mundo dará um salto” em direção aos objetivos de erradicar a pobreza e criar um planeta livre da fome.
Nesse sentido, foram encontradas correlações positivas entre o nível de empoderamento das mulheres e a diversidade alimentar em Bangladesh, Gana, Quênia, Moçambique, Ruanda e Timor-Leste.
Os autores do estudo explicam que intervenções focadas no protagonismo feminino poderiam aumentar a renda de 58 milhões de pessoas, melhorando a resiliência de outras 235 milhões.
O relatório da FAO mostra que as intervenções para melhorar a produtividade das mulheres são bem-sucedidas quando abordam o trabalho doméstico não remunerado.
A agência também destaca que o acesso a creches tem um grande efeito positivo no emprego das mães. Segundo a pesquisa, o aumento do emprego e da resiliência das mulheres requer programas de proteção social, educação, treinamento e maior segurança na posse da terra.
Embora 75% das políticas relacionados à agricultura e desenvolvimento rural de 68 países analisados reconheçam o papel da mulher, apenas 19% incluem metas relacionadas a gênero.
A FAO afirma que o progresso na redução das disparidades de gênero estagnou ou retrocedeu. Melhorias na nutrição, renda e acesso a empregos de qualidade estão travadas. Para superar esses desafios, a agência propões recomendações para construção de sistemas agroalimentares mais justos e sustentáveis.
Dentre elas estão melhorar o acesso das mulheres à internet móvel, que diminuiu de 25% para 16% entre 2017 e 2021 nos países de baixa e média rendas. Outra medida considerada importante é assegurar melhores direitos de posse sobre terras agrícolas para as mulheres.
Os sistemas agroalimentares abrangem a produção agrícola primária de produtos alimentares e não alimentares, a produção de alimentos de origem não agrícola e a cadeia de abastecimento alimentar, do produtor ao consumidor.