O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, pousou no aeroporto de Xangai pouco depois das 22 horas desta quarta-feira, 12, pelo horário local, e foi recepcionado pelo vice-ministro das Relações Exteriores da China, Xie Feng. A viagem de Lula visa estreitar as relações com o maior mercado de exportação para o Brasil e buscar novos investimentos após os anos Bolsonaro, de distanciamento.
“A época em que o Brasil estava ausente nas grandes decisões mundiais já é coisa do passado. Estamos de volta no cenário internacional depois de uma ausência inexplicável”, declarou em seu primeiro evento oficial no país.
A China é o país que mais consome produtos brasileiros, o que já é motivo suficiente para uma aproximação, mas, segundo especialistas, além disso, a atual política externa brasileira é de uma busca por uma aproximação das grandes potências, Estados Unidos e China.
Há uma grande expectativa sobre a viagem de Lula ao país asiático. A China é o principal parceiro comercial do Brasil: 27% de tudo o que foi exportado pelo país no ano passado teve como destino o mercado chinês.
Uma das pautas que devem ser mais discutidas na China é a diversificação das exportações. Entre os produtos exportados para a China, destacam-se a soja em grão, minério de ferro e petróleo, que respondem por 79% das vendas brasileiras para o país asiático.
Agenda
Na quinta-feira, a agenda de Lula incluiu a posse de Dilma como presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, o banco dos Brics, e a visita a uma fábrica da empresa de tecnologia Huawei.
O banco, com sede em Xangai, tem uma carteira de investimento de US$ 33 bilhões e foi criado em 2014, em uma reunião do grupo em Fortaleza.
Ainda nesta quinta, Lula vai visitou a fábrica da gigante de tecnologia chinesa Huawei. “Visitei o centro de desenvolvimento de tecnologias da Huawei. A empresa fez uma apresentação sobre 5G e soluções em telemedicina, educação e conectividade. Um investimento muito forte em pesquisa e inovação”, disse o presidente Lula.
Logo depois da visita, ele esteve em audiência com o secretário Geral do Partido comunista em Xangai e, no começo da noite, um jantar será oferecido pelo Secretário Geral do Partido comunista.
Após o jantar, Lula embarca para Pequim, onde terá vários compromissos na sexta-feira. Pela manhã, com o líder do Parlamento da China e, à tarde, com o presidente Xi Jinping.
Os dois devem assinar uma série de acordos bilaterais. Há ainda a promessa de Lula de convidar o líder chinês para visitar o Brasil. Estão previstas a assinatura de mais de 20 acordos entre os dois países.
Lula deve dar declarações à imprensa às 20 horas da sexta-feira em Pequim (7 horas da manhã da sexta-feira no Brasil). No sábado, Lula volta ao Brasil, mas fará uma parada em Abu Dhabi, onde deve se reunir com fundos soberanos.
Debates em vários setores da economia
Principal parceiro comercial do Brasil desde 2009, a China importou em 2022 mais de US$ 89,4 bilhões (R$ 445 bilhões, conforme cotação atual) em produtos brasileiros, especialmente soja e minérios, e exportou quase US$ 60,7 bilhões (R$ 300 bilhões, na cotação de hoje) para o mercado nacional.
O volume comercializado, de US$ 150,4 bilhões (R$ 751 bilhões, na cotação atual), cresceu 21 vezes desde a primeira visita de Lula ao país, em 2004.
A viagem acontece poucos meses depois de Lula se encontrar com Joe Biden em Washington. A intenção, diz o governo Lula, é emplacar uma política externa pragmática, equilibrando os laços com seus principais parceiros comerciais, apesar das crescentes tensões entre as potências.
Além da pauta econômica, Lula quer usar a viagem para inserir o Brasil em possíveis negociações de paz na Ucrânia. O brasileiro disse que levará o tema a Xi Jinping, depois que seu assessor especial, Celso Amorim, esteve em Moscou. Lula tem defendido a criação de um grupo de países para discutir a paz, com participação da China
Aviões da Embraer
Durante a visita, a Embraer pretende assinar um acordo para vender 20 jatos comerciais para uma companhia aérea chinesa, disseram à Reuters duas pessoas familiarizadas com o assunto. Se concretizado, o acordo marcaria um avanço para a Embraer na China, onde a fabricante brasileira de aviões tem lutado para encontrar novos negócios desde o fechamento em 2016 de uma joint venture de 13 anos em uma fábrica em Harbin.
Fábrica na Bahia
Em Xangai, Lula se encontra com o presidente da montadora de veículos elétricos BYD, em um encontro que acontece em meio a discussões que já duram meses para a instalação de um complexo industrial do grupo chinês na Bahia na antiga fábrica da Ford. Investimento estimado de 3 bilhões de reais Lula vai se reunir com Wang Chuanfu, fundador do grupo que atualmente disputa a liderança global na produção de veículos elétricos com a norte-americana Tesla.
Carnes e navios
Na esteira da visita de março, que acabou cancelada, uma robusta comitiva empresarial, com peso da indústria de carnes, esteve em Pequim para um encontro com representes de companhias chinesas. Os frigoríficos dominaram uma lista que incluía produtores de celulose, indústria de soja, mineração, construção e serviços financeiros. Na viagem, a Suzano assinou acordo com a empresa de navios chinesa Cosco para a construção de cinco embarcações de transporte de celulose e outros produtos de base biológica.
Investimento verde
Os governos do Brasil e da China negociam a criação de um fundo bilateral de investimento verde, cujo pontapé inicial pode ser anunciado durante a viagem, anteciparam à Reuters Amorim e Marina Silva.
A intenção é que o futuro fundo bilateral envolva o aporte de recursos públicos e privados que serão usados para alavancar investimentos em novas tecnologias verdes, subsidiar indústrias limpas e energia renováveis nos dois países e também em outros países em desenvolvimento.
Recuperação de terras
O governo brasileiro negocia para ter a comerciante chinesa de produtos agrícolas Cofco International como parceira em programa para recuperação e o plantio de áreas degradadas para a agricultura de baixo carbono.
Segundo o assessor especial do Ministério da Agricultura e Pecuária Carlos Ernesto Augustin, a proposta de uma coparticipação da empresa, com modelo ainda a definir, foi apresentada durante a viagem do ministro Carlos Fávaro à China, há duas semanas, e no próximo mês uma missão da Cofco deverá vir a Brasília para iniciar uma negociação.
5G e semicondutores
Na agenda de Lula também está a visita a um centro de tecnologia da Huawei. Fornecedora de boa parte da tecnologia 4G e 5G no Brasil, a Huawei teve a aprovação de novas tecnologias suspensas pelo governo norte-americano, que classificou a atuação da empresa de alto risco para a segurança nacional.
Amorim disse em março que o Brasil não vê o mundo dividido entre Washington e Pequim e que não tem vetos prévios a negócios com os chineses, nem no sensível setor de semicondutores, foco de tensão entre as potências. “Se eles (chineses) oferecerem boas condições (de fábrica de semicondutores), não vejo porque a gente recusar”.