O fim do Império Otomano aconteceu com a sua derrota na Primeira Guerra Mundial (1914-1914). A partir daí a Grã-Bretanha administrou o Oriente Médio até o final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Ao contrário dos otomanos, os britânicos facilitaram a aquisição de terras por organizações sionistas internacionais, que desejavam estabelecer um Estado de Israel. O retorno à Terra Prometida e as perseguições aos judeus na Rússia Imperial deram impulso à imigração.
O Holocausto, que tanto sensibilizou o mundo, propiciou a criação do Estado de Israel: como ideal religioso — o retorno à Terra da Promissão — e como uma visão política, desejo de um lar seguro. A Grã-Bretanha, diante da pressão da comunidade judaica pela criação de um Estado judaico na região, e sob o lema romano de “dividir para governar”, criou três Estados na região, entre eles um território judeu.
Uma organização sionista internacional financiou a criação de núcleos judeus na então Palestina. Estes, influenciados pelo socialismo da União Soviética e pelo espírito religioso, organizaram-se em sociedades coletivistas — os Kibutzim (em hebraico, estabelecimento coletivo, comunidade voluntária onde as pessoas vivem e trabalham sem competir entre si).
O kibutz surge como uma forma de coletividade comunitária israelita. Apesar de existirem empresas comunais em outros países, em nenhum outro as comunidades coletivas voluntárias desempenharam papel tão importante como o dos kibutzim em Israel, onde tiveram função essencial na criação do Estado judeu.
Um Kibutz era uma forma mais segura de viver no meio de um ambiente hostil. Uma razão pela qual os socialistas apoiaram muito Israel em suas primeiras duas décadas de existência é que os kibutzim representavam o socialismo em sua mais pura forma.
Os idealizadores dos Kibutzim, influenciados pela experiência das suas vidas nas terras de origem, onde eram tratados como escravos, elegeram o ideal socialista da igualdade. No princípio, praticavam a lei do marxismo: “De todos de acordo com as suas possibilidades e para todos, com as suas necessidades”.
A prática, porém, ao longo do tempo não sobreviveu à realidade. Os Kibutzim, como todas as organizações humanas, foram adaptando-se às características da natureza do homem. Não só as ambições dos mais capazes pediam diferentes participação nos resultados, como também os núcleos foram desenvolvendo vocações diferentes. De unidades fundamentalmente agrícolas, tornaram-se prósperos empreendimentos comerciais e industriais.
Também o pouco estímulo ao uso econômico dos recursos, desde que a comida, a água e a energia elétrica eram gratuitas, ensejava desperdícios indesejáveis. Instituída a cobrança individual das contas, os kibutzniks precisavam de fato de ter dinheiro pessoal. O refeitório também foi uma das primeiras coisas a mudar. Quando a comida era “gratuita”, as pessoas não tinham incentivo para pegar o montante apropriado. Cada refeitório de kibutz terminaria a noite com quantias enormes de comida a mais; geralmente essa comida era dada aos animais. Agora, 75% dos refeitórios de kibutz são pagos conforme o consumo em lanchonetes a la carte. Foi a volta ao individualismo.
Fazendo de muitos deles empreendimentos deficitários, que tinham que ser subsidiados pelo governo ou pelo sionismo internacional. O ímpeto inicial — heroico — do fervor religioso foi sendo abatido pelo individualismo. O socialismo só sobrevive em núcleos muito pequenos, como a família, mas assim mesmo se há uma união muito forte em torno de valores e princípios.
Os Kibutz não foram exceção. Passada a fase histórica do fervor religioso, que durou algumas décadas, foram sendo abandonados. Foi mais uma ideia romântica fracassada da eliminação do individualismo em benefício do coletivismo. Destas experiências a mais duradoura foi da própria URSS, mas mantida debaixo de forte pressão policial, que sobreviveu pela força até que “as suas vítimas a derrubaram”.
Segundo a Wikipedia, em 1950, 65 mil pessoas, cerca de 5% da população nacional, viviam nessas comunidades, que permaneceram populares até a década de 1980, quando enfrentaram a pior inimiga do socialismo, que é a realidade.
Embora o primeiro sinal de problemas no paraíso tenha sido a revolta contra a criação coletiva de filhos, Joshua Muravchik, que documentou a ascensão e queda do kibutz, explica que havia outra força poderosa que os utópicos não levaram em consideração: o crescente desejo das mulheres por terem roupas próprias, em vez de usarem peças de propriedade coletiva. Como alertaram os pioneiros, isso abriu uma Caixa de Pandora de individualismo. Se você pode possuir trajes, por que não produtos de higiene pessoal, móveis ou até geladeiras? Confirmou-se o óbvio, ou seja, as pessoas fazem melhor uso do dinheiro quando ele é seu.
A sequência foi que os mais talentosos e esforçados começaram a sair do sistema, o que foi um golpe para o movimento. Os kibutzim começaram a empregar gerentes externos e a atribuir salários de acordo com os níveis de habilidade, algo contrário aos seus princípios socialistas. Em uma resposta reveladora à pergunta do ensaio “No socialismo, quem vai tirar o lixo?”, eles começaram a contratar mão de obra não qualificada.
A partir daquele momento, a maioria dos kibutzim privatizou-se, dando a cada membro o direito a suas residências e uma participação individual em sua fábrica ou terreno. Apenas alguns ainda aderem aos ideais comunais tradicionais, geralmente os religiosos.
De fato, não apenas o kibutz quase desapareceu totalmente como foi concebido, mas toda a nação de Israel moveu-se significativamente na direção dos mercados livres.
Os kibutz foi um laboratório de mais uma experiência coletivista fracassada.