Goiás enfrenta uma crescente crise habitacional, com o último estudo do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento da Habitação (IMB) revelando que, em 2023, o estado apresenta um déficit habitacional que afeta 212 mil famílias, ou aproximadamente 503 mil pessoas. Esse número representa uma preocupante elevação em relação a 2022, quando o déficit era de 201 mil famílias. Essa situação alarmante corresponde a cerca de 7,13% da população goiana, evidenciando a urgência de ações efetivas para mitigar essa carência.
O principal fator que contribui para o déficit habitacional é o ônus excessivo com aluguel, que impacta 175 mil famílias no estado. Essa condição gera não apenas dificuldades financeiras, mas também afeta diretamente a qualidade de vida das famílias goianas. A Região Metropolitana de Goiânia é a mais afetada, com 73.427 famílias vivendo em condições precárias. O Entorno do Distrito Federal e o Sudoeste Goiano também apresentam números significativos, com 35.743 e 25.270 famílias, respectivamente. Por outro lado, as regiões com menor incidência de famílias em déficit habitacional são o Nordeste e o Noroeste Goiano.
Além do ônus excessivo com aluguel, a pesquisa aponta outras dimensões do déficit: 30.429 famílias residem em domicílios precários, 21.618 em situações improvisadas, 8.811 em habitações rústicas e 6.267 em domicílios adensados. Os dados revelam que, mesmo ao excluir o ônus excessivo, ainda existem 37.195 famílias em situação de vulnerabilidade. Essa complexidade do problema não se limita apenas às dificuldades financeiras, mas se entrelaça com questões estruturais e sociais que exigem uma análise aprofundada.
A questão do déficit habitacional é ainda mais alarmante quando se considera o impacto que ele tem sobre a vida das famílias. A falta de uma moradia adequada pode levar a problemas de saúde, educação e segurança, criando um ciclo de pobreza que se perpetua ao longo das gerações. Assim, o enfrentamento desse déficit não é apenas uma questão de política pública, mas um imperativo moral e social que deve ser abordado com seriedade.
Para entender melhor essa problemática, em entrevista ao Jornal Opção, Erik Alencar de Figueiredo, diretor-executivo do IMB, compartilhou sua perspectiva sobre o déficit habitacional em Goiás. Ele destacou que a melhoria no Cadastro Único (CadÚnico) para Programas Sociais do Governo Federal contribuiu para o aumento do déficit, refletindo uma melhor representação da população. “Com a estabilização deste cadastro e um ambiente econômico mais favorável, acreditamos que nos próximos anos poderemos observar uma redução nesse número”, afirmou Alencar.
Erik também abordou a relação entre urbanização e déficit habitacional, ressaltando que o crescimento das cidades em Goiás traz uma demanda crescente por habitações. “A urbanização eleva o preço dos aluguéis, comprometendo uma parte significativa da renda das famílias. Portanto, políticas como o Aluguel Social são essenciais para aliviar essa pressão”, comentou. Ele destacou ainda as consequências econômicas do déficit, que vão além do impacto direto nas famílias, afetando os serviços públicos e a infraestrutura urbana do estado.
Elcileni de Melo Borges, doutora em Geografia pela UFG e gerente de Políticas e Programas da Região Metropolitana de Goiânia, também conversou com o Jornal Opção e complementa essa análise ao falar sobre os fatores históricos que influenciam o cenário atual. Segundo Elcileni, a maior concentração do déficit habitacional ocorre em áreas urbanizadas e populosas, que atraem fluxos migratórios em busca de melhores oportunidades. “As regiões do entorno da capital Goiânia e do Entorno do Distrito Federal são as mais afetadas, refletindo a dinâmica de crescimento populacional e a escassez de moradias adequadas”, afirmou.
Ela também enfatizou o impacto da vulnerabilidade das famílias em áreas periféricas e rurais. “A situação de trabalho e rendimento dos chefes de família muitas vezes limita o acesso à moradia digna. Muitas famílias acabam caindo na categoria de ônus excessivo com aluguel, levando a despejos e coabitação, que se torna uma estratégia de sobrevivência”, destacou Elcileni. Essa situação é evidenciada pelo aumento do fluxo migratório para a Região Metropolitana de Goiânia, que foi a segunda em crescimento populacional no país segundo o Censo 2022.
As políticas habitacionais em Goiás ainda precisam ser avaliadas de forma crítica. Elcileni observa que a ausência de um planejamento urbano eficaz contribui para a distribuição desigual de moradias. “As Leis de Uso do Solo muitas vezes não priorizam a moradia social, resultando em expansões urbanas que favorecem interesses privados em detrimento das necessidades da população”, alerta. Apesar das iniciativas bem-sucedidas da Agehab, como o Aluguel Social e o Programa Pra Ter Onde Morar, os números do déficit habitacional permanecem altos, indicando a necessidade de uma abordagem mais robusta e integrada.
A falta de habitação adequada também gera uma pressão sobre os serviços públicos, que precisam se adaptar a uma população em crescimento e a uma infraestrutura já sobrecarregada. Erik Alencar destaca que “o déficit habitacional pode gerar uma demanda maior por serviços públicos, o que resulta em custos adicionais para o governo”. Assim, o enfrentamento do déficit habitacional não é apenas uma questão de atender à demanda por moradia, mas também de garantir a eficiência dos serviços públicos e a qualidade de vida da população.
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