O agronegócio brasileiro começou a sentir há alguns anos os impactos das mudanças climáticas, que tendem a se agravar ainda mais. Proteger o segmento — responsável pela segurança alimentar e por 23,8% do Produto Interno Bruto (PIB) do país — das variações no clima, é, atualmente, o maior desafio do setor.
O seguro rural representa hoje apenas 11,2% do mercado total. Na contramão da emergência climática, a cobertura vem caindo, em 2023, cerca de 6,2 milhões de hectares contavam com a proteção. Em 2022, eram 7,3 milhões de hectares cobertos, quase metade da área que contava com seguro em 2021, que era de 14 milhões de hectares.
Para Daniel Caiche, professor de MBA da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e especialista em mudanças climáticas e mercado de carbono, a baixa cobertura indica uma lacuna significativa na proteção dos agricultores contra os riscos climáticos e outros imprevistos. "Essa baixa penetração do seguro agrícola pode ser atribuída a vários fatores, incluindo os custos elevados de contratação, a falta de acesso ao crédito agrícola e a limitada capacidade das atuais políticas públicas para atender o grande conjunto de agricultores brasileiros", avalia.
"Como resultado, muitos agricultores enfrentam grandes dificuldades em se recuperar de perdas causadas por eventos climáticos extremos, que podem levar a graves consequências econômicas e sociais", complementa.
Os desafios são cada vez mais complexos. Com o aumento da frequência e intensidade de eventos climáticos extremos, como secas, ventos fortes e inundações, as safras são prejudicadas, levando a perdas significativas de produção. Além disso, as mudanças nos padrões de precipitação e o aumento das temperaturas médias afetam diretamente o crescimento das culturas e a disponibilidade de recursos hídricos para a irrigação, ampliando a vulnerabilidade do setor agrícola.
O Brasil sofre com a atuação de dois fenômenos climáticos principais, El Niño e La Niña. O primeiro provoca tipicamente secas nas regiões Norte e Nordeste do país, enquanto a La Niña favorece a formação de chuvas nessas mesmas regiões. Já a região Sul é marcada por maiores volumes de chuva durante o El Niño e, de forma contrária, menores volumes pluviométricos ocorrem na La Niña. Quanto mais intensos forem esses fenômenos, mais propensos serão os riscos nas safras, seja por excesso ou falta de chuva, por altas ou baixas temperaturas.
Considerando as grandes culturas, responsáveis pela maior parte da produção e exportação agrícola brasileira, há altos impactos no milho e na soja, por exemplo, que são altamente sensíveis à falta de água durante os períodos de seca, assim como o café e a cana-de-açúcar. "Essas culturas são fundamentais para a economia brasileira, e suas perdas podem ter impactos significativos não apenas nos agricultores, mas em toda a cadeia produtiva e na segurança alimentar do país", destaca Caiche.
Sobre as principais culturas responsáveis pela segurança alimentar, o pesquisador citou os impactos na cultura do arroz, da mandioca e do feijão, "outro alimento essencial, pode ter sua produtividade comprometida por variações climáticas, afetando a oferta e os preços no mercado".