Em depoimento à Polícia Federal, o ex-comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, e o ex-comandante da o ex-comandante da Força Aérea Brasileira (FAB), Carlos Almeida Baptista Júnior, complicaram de vez a vida do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ambos confirmaram que ocorreram três reuniões convocadas por Bolsonaro para tratar do golpe de Estado.
Baptista Júnior teria dito aos investigadores que, logo no início da reunião, Nogueira anunciou que “gostaria de apresentar (o documento) aos comandantes para conhecimento e revisão”. Ao analisar o documento, o chefe da Aeronáutica diz ter reagido prontamente, afirmando que a minuta tinha como objetivo impedir que Lula assumisse a Presidência.
“Esse documento prevê a não assunção do cargo pelo novo presidente eleito?”, teria dito o brigadeiro, segundo depoimento da PF.
“O depoente [Baptista Júnior] entendeu que haveria uma ordem que impediria a posse do novo governo eleito; que, diante disso, o depoente disse ao ministro da Defesa que não admitiria sequer receber esse documento; que a Força Aérea não admitiria tal hipótese [golpe de Estado]”, diz a transcrição do depoimento, segundo o jornal.
Em depoimento à Polícia Federal (PF), o brigadeiro Almeida Baptista Júnior relatou uma reunião tensa no Ministério da Defesa em que o então ministro da pasta, o general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, teria apresentado uma minuta golpista “mais abrangente” da que a mostrada por Jair Bolsonaro (PL) aos chefes das Forças Armadas dias antes.
O general Marco Antônio Freire Gomes também confirmou que a minuta golpista encontrada na casa do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Anderson Torres, logo após o 8 de janeiro de 2023, é a mesma que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) apresentou aos chefes militares numa reunião em que propôs um golpe de Estado. O documento serviria de bússola para operacionalizar a ruptura institucional então pretendida pelo extremista que ocupou o Palácio do Planalto.
Aos investigadores, Freire Gomes disse que “se recorda de ter participado de reuniões no Palácio do Alvorada, após o segundo turno das eleições, em que o então Presidente da República JAIR BOLSONARO apresentou hipóteses de utilização de institutos jurídicos como GLO, ESTADO DE DEFESA e ESTADO DE SÍTIO em relação ao processo eleitoral”.
A tal reunião a que Freire Gomes se refere ocorreu em 14 dezembro de 2022. Lula já havia sido diplomado no dia 12 de dezembro, e Bolsonaro caminhava para o fim do mandato. O encontro foi convocado pelo então ministro da Defesa, o também general Paulo Sérgio Nogueira. Estavam presentes também o tenente-brigadeiro Carlos Baptista Júnior, comandante da Aeronáutica, e o almirante Almir Garnier, comandante da Marinha. As informações sobre o teor do depoimento do general à PF são do jornal Folha de S. Paulo.
Freire Gomes também disse que o ex-ministro Anderson Torres teria oferecido assessoria jurídica sobre a viabilidade de um eventual decreto golpista.
Urnas não tinham fraude
Baptista Júnior ainda relatou que, diante do clima tenso, deixou a reunião antes mesmo que ela terminasse.
“O depoente, em seguida, retirou-se da sala; que a minuta estava sobre a mesa do ministro da Defesa Paulo Sérgio de Oliveira; que o almirante Garnier [então comandante da Marinha] não expressou qualquer reação contrária ao conteúdo da minuta, enquanto o depoente esteve na sala”, diz a transcrição do depoimento.
Em outro trecho de sua oitiva, já revelado, Baptista Júnior diz que alertou Bolsonaro na reunião dias antes que o relatório feito pelos militares não havia apontado fraude nas eleições.
As novas informações revelam que, mesmo diante do alerta sobre a negativa do álibi para o golpe, Bolsonaro seguiu adiante com seu plano de impedir que Lula tomasse posse.
Para os investigadores, essa constatação é crucial para incriminar o ex-presidente e colocá-lo como chefe da facção criminosa que tentou o golpe.
Com informações da Folha de S. Paulo, DCM e Fórum