ASPECTOS INSTITUCIONAIS E ADMINISTRATIVOS
O programa Arpa logrou estruturar um arranjo de relacionamento interinstitucional que possibilitou a atores com posições e interesses diversos interagir de forma equilibrada em relação às alternativas existentes para o alcance dos objetivos do programa. Foram estabelecidas importantes parcerias técnicas e financeiras entre o governo do Brasil e o governo da Alemanha – por meio do KfW e da GiZ, o Banco Mundial - no âmbito do Fundo Global para o Meio Ambiente – GEF, o WWF-Brasil, o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) e os governos estaduais da Amazônia: Amapá, Amazonas, Acre, Mato Grosso, Pará, Rondônia e Tocantins. A sociedade civil organizada também foi integrada ao arranjo institucional do programa, por meio da participação em instâncias especificas para o seu monitoramento, controle e gestão.
O Funbio tem uma equipe de 73 colaboradores, dos quais 62% são mulheres. Desse conjunto, 26 indivíduos ocupam cargos de coordenação, sendo 81% do gênero feminino.
INDICADORES DE RESULTADOS E IMPACTOS
Componente Ordenamento Territorial (3)
Objetivo Específico 3.1: Unidades de conservação (UCs) criadas ou ampliadas no âmbito do Programa ARPA
O processo de criação de uma UC é constituído dos seguintes marcos referenciais: consulta pública, diagnóstico da situação fundiária, diagnóstico ambiental, diagnóstico socioeconômico e instrumento legal de criação.
- Área de UCs criadas ou ampliadas com apoio do projeto (indicador de impacto)
A meta estipulada para esse indicador foi a criação de um total de 13,5 milhões de hectares de novas UCs. Com a implementação do projeto, no período de 2010 a 2015, foram agregados 708.251 hectares de UCs criadas ou ampliadas. Todavia, quando considerado o Parque Nacional Nascente do Lago Jari, com 812.141 hectares, criado em 2008 e contabilizado no âmbito da fase 2 do Programa Arpa, o total de área de novas UCs criadas ou ampliadas monta a 1.520.392 hectares.
O projeto também apoiou outros processos de criação de UCs que, todavia, não atingiram todos os marcos para a sua criação. Um desses processos, que corresponde a uma área de 126.302 hectares, teve os estudos concluídos no final de 2014 e aguarda a publicação do instrumento legal de sua criação. Outros nove processos de criação de UCs deverão ter continuidade, correspondendo a 1.981.076 hectares.
Objetivo Específico 3.2: Unidades de conservação (UCs) existentes consolidadas no âmbito do Programa Arpa
- Área de UCs consolidadas em grau 1 (indicador de impacto)
A meta estabelecida para esse indicador foi de 23 milhões de hectares, sendo que foram consolidadas 10 UCs em grau 1 com 4.904.649 hectares. O baixo desempenho deste indicador decorre da exigência do atendimento simultâneo de todos os marcos referenciais relativos ao grau de consolidação almejado. Se consideradas as três UCs que dependem somente da alocação de mais um funcionário na sua equipe técnica, tem-se 13 UCs consolidadas em grau 1, totalizando 5.571.028 hectares.
Adicionalmente, outras 15 UCs, com área de 4.105.551 hectares, dependem apenas da elaboração ou revisão do plano de manejo (10 UCs) ou da implementação do plano de proteção (5 UCs) para alcançar a consolidação em grau 1.
Apesar do não cumprimento da meta, ocorreram consideráveis avanços em vários dos marcos referenciais do conjunto de 57 UCs apoiadas para fins de consolidação em grau 1, tais como o funcionamento de conselhos gestores (consultivo ou deliberativo, atingido por 85% das UCs), disponibilização do conjunto de equipamentos básicos para a operacionalização das UCs (87% das UCs) e sinalização dos principais pontos de acesso dessas unidades (85% das UCs).
- Área de UCs consolidadas em grau 2 (indicador de impacto)
A meta estabelecida para esse indicador foi de consolidação de 9 milhões de hectares de UCs em grau 2. No bioma Amazônia foi consolidada uma UC em grau 2 com 328.150 hectares, e fora do bioma foi consolidada uma segunda UC com 100.413 hectares, que todavia não está sendo considerada por não ter sido objeto do apoio com recursos do Fundo Amazônia.
O baixo desempenho deste indicador decorre da exigência do atendimento simultâneo de todos os marcos referenciais relativos ao grau de consolidação almejado, tendo havido maior dificuldade com relação ao atendimento dos marcos referenciais de demarcação das UCs, realização de inventário da biodiversidade e constituição de equipe técnica com no mínimo cinco funcionários.
Apesar do não cumprimento da meta, ocorreram consideráveis avanços em vários dos marcos referenciais do conjunto de 38 UCs selecionadas para fins de consolidação em grau 2, tais como funcionamento regular dos conselhos gestores das UCs (atingido por 92% delas), instalações mínimas (66% das UCs) e levantamento fundiário (68% das UCs).
- Número de indivíduos capacitados na gestão de UCs (indicador de produto)
Foram capacitados 84 indivíduos para a gestão de unidades de conservação da natureza e 247 pessoas participaram de cursos de qualificação para a gestão dos recursos disponibilizados pelo Programa Arpa.
- Desmatamento anual nas UCs apoiadas pelo Programa Arpa (indicador de impacto)
Na tabela a seguir, elaborada com base nos dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), verifica-se que ocorreu uma redução de 37% do desmatamento nas UCs apoiadas pelo projeto quando se analisa a média da área desmatada no período 2011-2014 em relação à linha de base (2010).
Visando qualificar os resultados desse indicador, buscou-se identificar um universo semelhante de UCs que não se beneficiou das intervenções do projeto, ou seja, foram selecionadas as demais UCs da Amazônia Legal que não receberam apoio do projeto. Esse conjunto pode ser considerado como um grupo de controle para fins comparativos, no qual se verificou no mesmo período apenas uma redução de 8% na área desmatada. Ou seja, o desmatamento das UCs apoiadas pelo projeto caiu à uma taxa maior (37%) do que a redução do desmatamento nas UCs não apoiadas (8%).
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Área desmatada (km2) |
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Área UCs (km2) |
2010 Linha de Base |
2011 |
2012 |
2013 |
2014 |
Variação 2014 x 2010 |
Média 2011-2014 (km2) |
Comparação Média 2011-2014 vs Linha de base 2010 |
Desmatamento UCs ARPA *(excluindo PE do Cantão) |
526.916 |
117 |
77 |
63 |
74 |
79 |
-32% |
73 |
-37% |
Desmatamento UCs Não-ARPA *(somando PE do Cantão) |
746.825 |
491 |
423 |
373 |
539 |
479 |
-3% |
454 |
-8% |
Fonte: BNDES, com base em dados do INPE
Cabe registrar que o Parque Estadual do Cantão integra o conjunto de UCs apoiado pela fase 2 do Programa Arpa, mas não está sendo considerado como integrante do conjunto de UCs apoiadas pelo projeto para fins dessa análise, por não se encontrar no bioma Amazônia conforme a Portaria MMA n° 96, de 27.03.2008, não obstante se tratar de uma área de transição ambiental entre o bioma cerrado e a floresta amazônica.
A figura a seguir mostra que ao longo da implementação do projeto houve redução da participação das UCs apoiadas pelo projeto no desmatamento total ocorrido nas UCs da Amazônia Legal.
- Volume de recursos financeiros capitalizados para o Fundo de Áreas Protegidas / Fundo de Transição (FT) da Iniciativa ARPA para a Vida (indicador de impacto)
Originalmente o projeto previa o apoio à gestão do Fundo de Áreas Protegidas para prover a sustentabilidade financeira de longo prazo das UCs consolidadas. Todavia essa ação foi revista em face dos modelos e projeções de custos desenvolvidos no âmbito do projeto, que apontaram para uma indisponibilidade de recursos para a consolidação plena e manutenção de todas as UCs apoiadas pelo Programa Arpa, se adotado o Fundo de Áreas Protegidas no seu formato de um fundo de capitalização permanente (endowment fund”.
Por conseguinte, foi revista a estratégia de capitalização do Fundo de Áreas Protegidas, tendo este sido substituído pelo fundo de transição da Iniciativa Arpa para a Vida, um mecanismo financeiro que tem a natureza de um fundo de amortização (sinking fund).
A partir dessa nova definição foram transferidos recursos do Fundo de Áreas Protegidas para o Fundo de Transição (FT) da Iniciativa ARPA para a Vida, bem como realizadas novas captações para esse novo fundo¹. No início da execução do projeto o Fundo de Áreas Protegidas dispunha de R$ 51,2 milhões (US$ 29,6 milhões), sendo que em 31.12.2015 o Fundo de Transição (FT) da Iniciativa ARPA para a Vida contabilizava R$ 235,4 milhões (US$ 60,2 milhões) em disponibilidades, ou seja, um crescimento de US$ 30,6 milhões, valor este um pouco abaixo da meta de US$ 46 milhões de capitalização adicional estabelecida originalmente para o Fundo de Áreas Protegidas (FAP).
Considerando o desempenho dos indicadores de criação, ampliação e consolidação de UCs, taxa de desmatamento das UCs apoiadas e desempenho do Fundo de Transição (FT) da Iniciativa ARPA para a Vida, pode-se concluir que o projeto apresentou resultados significativos, aquém, todavia, das previsões iniciais. Não obstante esse atingimento apenas parcial das metas estabelecidas, o fato é que os dados de redução do desmatamento nas 94 UCs beneficiadas pelo projeto são bastante favoráveis, evidenciando o sucesso do projeto em sua contribuição para o objetivo geral do Fundo Amazônia de redução do desmatamento.
¹ Esse novo fundo (o FT) tem prazo de duração previsto de 25 anos, e sua meta de captação é de US$ 215 milhões.
LIÇÕES APRENDIDAS
Foram apontados desafios e lições relevantes para o Programa Arpa – Fase 2. Destacam-se os seguintes: (i) a escassez de recursos e, sobretudo, de pessoal para a gestão de UCs é estrutural e impacta qualquer iniciativa de aprimoramento de seu funcionamento; (ii) ao alocar um maior número de servidores públicos na coordenação do Programa Arpa foi possível assegurar o maior envolvimento dos governos em momentos críticos de sua gestão, essencial para a boa execução do projeto; (iii) o enorme passivo de regularização fundiária permite que pessoas não autorizadas desenvolvam atividades incompatíveis com os objetivos das UCs, gerando conflitos pelo uso da terra e dos recursos naturais e (iv) durante a implementação do programa se mostrou necessário simplificar os protocolos para o monitoramento da biodiversidade, permitindo um avanço significativo na sua implementação, essencial para a gestão das UCs e a avaliação da efetividade dos esforços de conservação de uma amostra representativa da biodiversidade.
SUSTENTABILIDADE DOS RESULTADOS
A preservação dos avanços conquistados pelo Programa Arpa depende de uma série de variáveis, das quais se destacam: a necessidade de recursos humanos adicionais nos órgãos de governo responsáveis pela gestão das UCs e a garantia de recursos financeiros continuados para seu custeio e novos investimentos.
No que tange a sustentabilidade financeira do Programa Arpa, com base nos estudos e projeções dos custos para a consolidação e manutenção das UCs, foi elaborada e implementada uma nova estratégia denominada Iniciativa Arpa para a Vida, sob a forma de um fundo privado (Fundo de Transição) que ao final de 2015 contabilizava um saldo de R$ 235,4 milhões (US$ 60,2 milhões).
Este fundo deverá disponibilizar os recursos necessários para o financiamento em longo prazo do Programa Arpa, de modo decrescente, já que se espera que nos próximos 25 anos haja uma elevação gradativa do aporte de recursos governamentais até a cobertura integral dos custos do programa.