A Polícia Federal (PF) avançou significativamente nas investigações indicando que os chamados kids pretos, agentes das Forças Especiais do Exército, infiltraram-se nos atos golpistas do 8 de janeiro, quando bolsonaristas radicais invadiram e depredaram os prédios do Congresso, Supremo Tribunal Federal (STF) e Palácio do Planalto.
A informação é da jornalista Malu Gaspar, de O Globo. Sob o poder das imagens e depoimentos dos radicais que foram presos, a PF apurou que os kids pretos estavam “em vários pontos estratégicos da Praça dos Três Poderes”.
“Nas imagens no poder da PF, é possível ver que homens usando balaclavas (o gorro preto que caracteriza essas tropas) e luvas abrindo escotilhas de passagens no teto do Congresso. Depois, entrou no salão verde da Câmara dos Deputados por uma escada improvisada como os gradis normalmente usados para cercar o parlamento”, diz a jornalista.
Na semana passada, a PF cumpriu mandado de busca e apreensão contra o general da reserva Ridauto Lúcio Fernandes, integrante do grupo. Ele é acusado de executar e idealizar os atos golpistas.
“Quero dizer que eu estou arrepiado aqui”, disse o militar num vídeo gravado durante os atos. Ridauto aparece enrolado na bandeira do Brasil no meio dos invasores.
O militar foi ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde na gestão de Eduardo Pazuello, que também já foi integrante do grupo militar.
Outros nomes de destaque do governo anterior estiveram na organização como o general Luiz Eduardo Ramos , que comandou a Casa Civil e a Secretária-Geral da Presidência, e o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
De acordo com a revista Piauí, a primeira a identificar táticas usadas nos atos golpistas que são similares as empregadas pelo kids pretos, diz que ao menos 26 deles ocuparam cargos importantes no governo Bolsonaro. Quando esteve na ativa, o ex-presidente tentou, sem sucesso, ingressar nessa tropa de elite.
Treinamento em guerrilha e inssureição
Segundo o Exército, atualmente os “kids pretos” têm um efetivo aproximado em torno de 2, 5 mil militares. O general da reserva Ridauto Lúcio Fernandes, é um deles.
O militar foi alvo da 18ª fase da Operação Lesa Pátria, da Polícia Federal, na manhã desta sexta. Ridauto Fernandes é investigado como executor e possivelmente um dos idealizadores dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro.
Segundo a revista Piauí, em 4 anos de governo Bolsonaro, pelo menos 26 “kids pretos” ocuparam cargos na gestão. O ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), tenente-coronel Mauro Cid, também faz parte do grupo.
Em delação, Mauro Cid disse à Polícia Federal que Bolsonaro fez reuniões no Alvorada para consultar integrantes da Marinha e das Forças Armadas sobre a possibilidade de um golpe militar.
Goiânia
Os “kids pretos” passam por formação no Centro de Instrução de Operações Especiais, em Niterói (RJ), no Comando de Operações Especiais em Goiânia (GO), ou na 3ª Companhia de Forças Especiais, em Manaus (AM).
Como parte do treinamento, os militares aprendem a atuar em missões com alto grau de risco e sigilo, como em operações de guerra irregular — terrorismo, guerrilha, insurreição, movimentos de resistência, insurgência. Além disso, são preparados para situações que envolvam sabotagem, operações de inteligência, planejamento de fugas e evasões.
Na página oficial do Facebook do Comando de Operações Especiais, em Goiânia, um vídeo de comemoração dos 65 anos das operações especiais é iniciado com a frase:
“O ideal como motivação. A abnegação como rotina. O perigo como irmão. A morte como companheira”, diz o vídeo.
De acordo com o Exército, os “kids pretos” podem atuar em todo o território nacional. No entanto, a corporação afirma que as tropas especiais só são empregadas por ordem do Comando do Exército, sob coordenação do Comando de Operações Especiais.