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Brasil

Origens e significados dos nomes das cidades goianas

Na era dos setecentos, nos primeiros dias de Goiás, os topônimos evocavam símbolos cristãos como forma de buscar auxílio divino e a labuta para arriscada missão de ocupar o coração do Brasil

Publicada em 11/05/23 às 10:29h - 36 visualizações

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Origens e significados dos nomes das cidades goianas
Avatar photo Bento Fleury 22 março 2022 às 18h15  (Foto: Rádio Rir Brasil - Itapuranga-Goias : Direção: Ronaldo Castro - 62 9 9 6 0 8-5 6 9 5 )

Na era dos setecentos, nos primeiros dias de Goiás, os topônimos evocavam símbolos cristãos como forma de buscar auxílio divino e a labuta para arriscada missão de ocupar o coração do Brasil

A bela e antiga Pouso Alto, hoje Piracanjuba, a evocar a saga carreira nos sertões | Acervo de Bento Fleury

Na formação histórica e geográfica de Goiás há curiosidades dignas de nota, no que concerne aos topônimos de certos lugares no passado; quando, no imenso chão goiano, os primeiros desbravadores ocupavam o espaço e abriam territorialidades diversas nos ciclos do ouro e do couro; na gênese econômica daquelas eras primitivas. Luta e labuta eram adjetivos que marcavam a sedimentação de uma goianidade pouco a pouco construída.

Na era dos setecentos, nos primeiros dias de Goiás, quando o chão era fecundo, inóspito e amedrontador, os primeiros topônimos, sob influência católica, evocavam símbolos cristãos como forma de buscar auxílio divino para tão arriscada missão de ocupar o espaço geográfico do coração do Brasil. 

Assim, a bela e poética Santa Cruz de Goyaz foi marcada no chão das incertezas como cidade opulenta do ciclo do ouro, rica de tradições e histórias, belíssima cidade até os dias atuais.  Santa Luzia, hoje a Luziânia do entorno de Brasília, evocava a imagem da santa, nos primeiros garimpos do ouro que brilhavam aos olhos da cobiça. A própria capital, Vila Boa de Goiás, buscou primeiramente a denominação como Arraial de Santana, padroeira do Estado, para seus primeiros embates.

Nessa mesma corrente seguem outras cidades do ciclo do ouro como São José do Tocantins, hoje Niquelândia; Pilar de Goyaz, ao buscar Nossa Senhora do Pilar e os sinos milagrosos; Bonfim de Goyaz, hoje Silvânia. Fogem a esta regra as bisseculares Meia Ponte (Pirenópolis), Trahyras (Tupiraçaba), Corumbá de Goiás, Anicuns, Jaraguá e Crixás.

Na linha da tradição católica, em outros séculos, muitos topônimos foram surgidos dessa inspiração como Santa Leopoldina (Aruanã), Santa Luzia (Aurilândia), São João Batista do Meia Ponte (Brazabrantes), Santana das Antas (Anápolis), Santo Antonio do Capoeirão (Damolândia), Santo Antonio do Alegrete (Edeia), São Geraldo (Goianira), São Sebastião das Bananeiras (Goiatuba), São Sebastião do Ribeirão (Guapó), Capelinha (Heitoraí), Santo Antonio das Grimpas (Hidrolândia), Santo Antonio do Curral Queimado (Itaguaru), São Sebastião de Pimenta (Itarumã), São Sebastião do Atolador (Mairipotaba), Santa Luzia do Matrinchã (Matrinchã), São Bento (Palminópolis), São José do Turvo (Paraúna), Santa Rita do Pontal (Pontalina), Santa Rita dos impossíveis (Santa Rita do Araguaia), São Sebastião dos Cristais (Cristalina), Cristianópolis (Gameleira) e Santa Rita do Paranaíba (Itumbiara).

Mas, não só os topônimos desaparecidos ostentam esta influência nitidamente católica na nossa formação geográfica. Nomes de santos ainda permaneceram como Abadia de Goiás, Abadiânia, Aparecida de Goiânia (ela pertence à Goiânia?), Aparecida do Rio Doce, Bom Jesus de Goiás, Divinópolis de Goiás, Jesúpolis, Santa Bárbara de Goiás, Santa Fé de Goiás, Santa Helena de Goiás, Santa Isabel, Santa Rita do Novo Destino, Santa Rosa de Goiás, Santa Tereza de Goiás, Santa Terezinha de Goiás, Santo Antonio da Barra, Santo Antonio do Descoberto, São Domingos, São Francisco de Goiás, São João D’Aliança, São João da Paraúna, São Luiz de Montes Belos, São Luiz do Norte, São Miguel do Araguaia, São Miguel do Passa Quatro, São Patrício, São Simão, Trindade. Por esta listagem já caberia um estudo bem mais profundo das repetições de santos. Santo Antonio e São Sebastião, no passado e no presente, foram os mais escolhidos.

Numa análise geográfica e mais precisamente geológica, as pedras também foram campeãs em nomear cidades no território das possibilidades goianas. Exemplos do ontem e do hoje podem ser enunciados: Itambé (Aloândia), Itaim (Goianira), Itajubá (Israelândia), Termas de Itajá (Lagoa Santa), Garimpo do Rio Verdão (Maurilândia). No presente ainda mais brilharam as pedras faiscantes do sonho do ouro como Itaberaí (antiga Curralinho), Aurilândia (antiga Santa Luzia), Córrego do Ouro, Cristalina (antiga São Sebastião dos Cristais), Itapirapuã, Itaguari, Itaguaru, Itajá, Itapaci, Itapuranga, Itarumã, Itauçu (antiga Catingueiro grande), Minaçu, Mineiros, Niquelândia, Ouro Verde, Perolândia, Cristalândia, Rubiataba. Na febre do ouro, o território se derramou em sentidos…

A natureza, por meio da poética do Cerrado, como inspiração do homem em diversos tempos, também abriu campo à significação no território de Goiás como Campo Limpo (Amorinópolis), Cerrado (Nerópolis), Tabocas (Avelinópolis), Suçuapara (Bela Vista de Goiás), Chapada (Cristalândia), Gameleira (Cristianópolis), Planura verde (Cromínia), Capoeirão (Damolândia), Riachão (Guarani de Goiás), Goiabeiras (Inhumas), Xixá (Itarumã), Boa vista do Matão (Joviânia), Chapadão (Montividiu), Campo Formoso (Orizona), Matão (Ouro Verde de Goiás), Mataúna (Palmeiras de Goiás), Vargem grande (Varjão).

No presente, a evocação ao Cerrado ainda perdura como nos topônimos bonitos de Buriti Alegre, Cabeceiras, Campestre de Goiás, Campinaçu, Campinorte, Campos Belos, Campo Alegre de Goiás, Campos Verdes, Chapadão do Céu (belíssimo nome!), Jandaia, Jaraguá, Jataí, Marzagão, Morrinhos, Palmeiras de Goiás, Planaltina, Serranópolis, Taquaral, Varjão. Nomes que muito dizem do chão parado de Goiás.

Se Goiás é, geograficamente, o berço das águas, o líquido precioso também se derramou em sentidos nos topônimos no ontem como no hoje: Água Fria (Caçu), Rio do Peixe (Caturaí), Ribeirão (Guapó), Entre-Rios (Ipameri), Água Limpa (Jandaia), Olhos d’água (Americano do Brasil), Riachão (Guarani de Goiás), Água Limpa (Jussara), Atolador (Mairipotaba), Riachão (Mambaí), Rio Verde, São José do Turvo (Paraúna), Meia Ponte (Pirenópolis), Água Emendada (Portelândia), Barranca (Rialma), Porto Mão de Pau (Três Ranchos), Trahyras (Tupiraçaba), Poções (Turvânia), Manchão do Pacu (Jaupaci), Torres do Rio Bonito (Caiapônia), Santa Rita do Paranaíba (Itumbiara).

No presente, as águas ainda derramam, embora sujas e diminutas, outros significados no território de Goiás: Água Fria, Águas Lindas de Goiás, Água Limpa, Aparecida do Rio Doce, Cabeceiras, Cachoeira alta, Cachoeira de Goiás, Cachoeira Dourada, Caldas Novas, Caldazinha (Ribeirão das Caldas e o Sozinha), Carmo do Rio Verde, Córrego do Ouro, Corumbaíba (Corumbá com Paranaíba), Hidrolândia, Hidrolina, Lagoa Santa, Matrinchã, Piracanjuba, Rialma, Rio Quente, Rio Verde, Turvânia (Rio Turvo), Turvelândia, Piranhas. Também o Araguaia se derrama em sentidos (Araguapaz, Aragoiânia, Aragarças, Aruanã, Santa Rita do Araguaia, São Miguel do Araguaia, Trombas). Alguns nomeiam peixes tão raros e desaparecidos pela incúria humana e pela devastação dos dias presentes.

Nomes estranhos e curiosos, muitos jocosos também em relação aos arraiais, vilas e cidades se construíram na alma goiana ao longo da ocupação do território como: Calção de Couro (Goianésia), Veadeiros (Alto Paraíso de Goiás), Biscoito Duro (Malhador e depois Aragoiânia), Pau Baixo (Vila Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em Abadia de Goiás), Chiqueirão (Ananás), Vai-vem (Ipameri), Curral Queimado (Itaguaru), Cavalo Queimado (Faina), Atolador (Mairipotaba), Fumaça (Paraúna), Abóboras (Rio Verde), Capetinga (São João da Aliança).

No presente, outras tantas formações esdrúxulas ainda se efetivam como Barro Alto, Edeia, Fazenda Nova, Gouverlândia, Montividiu (que ainda se dividiu em Montividiu do Norte!), Sanclerlândia (difícil de falar, deixa a gente com a boca mole!), São Miguel do Passa Quatro (e se forem cinco pessoas, não passarão? Claro, que é o belo e piscoso Ribeirão do Passa Quatro, histórico, dos tempos de Bonfim de Goyaz…), Vicentinópolis (Palitó seria melhor…), Guapó, que antes ficasse mesmo no poético Ribeirão. Estranhas as construções sintáticas em Alexânia e Guaraíta, além do entreguismo estrangeiro em Panamá. Nada de condenações. São belas cidades, de pessoas batalhadoras que seguem o destino apesar de tudo, apenas a lembrança jocosa dos nomes estranhos dos burgos em que moram.

Também as homenagens aos goianos de valor são mais que merecidas: Leopoldina (Aruanã), Vila Xavier de Almeida (Corumbaíba), Capela dos Correias (Orizona),  Imperatriz (Formosa),Tavares (Vianópolis),  Americano do Brasil, Leopoldo de Bulhões, Senador Canedo, Braz Abrantes, Couto Magalhães, Jussara, Nazário, Padre Bernardo, Professor Jamil, Pires do Rio são emblemáticas. É a memória dos homens e das famílias que impulsionaram gerações.

Há nomes que evocam história brasileira ou mundial, que são belíssimos, a exemplo de Catalão, Anhanguera, Ceres, Ouvidor, Posse e Mossâmedes. Há, também, formações de palavras que criam termos poéticos e evocativos como Acreúna, Caiapônia, Goiandira, Indiara, Iporá, Aporé, Caturaí, Porangatu, Araçu, Uruana, Uruaçu e Urutaí, para lembrar alguns.

Na Geografia dos sentidos poéticos, a lembrar Cora Coralina, é possível dizer: “Essas coisas dos reinos de Goiás”!





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