Novas mensagens obtidas pela Operação Venire, divulgadas pela CNN Brasil nesta segunda-feira (8), indicam que o coronel Elcio Franco também participou da trama de golpe em dezembro. O objetivo era evitar a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em conversa com o ex-major Ailton Barros, Franco sugere usar o Batalhão de Operações Especiais, passando por cima do então Comando do Exército. De acordo com a reportagem, o coronel não só sabia da intenção do golpista, como deu sugestões de como mobilizar 1.500 homens para a ação.
Franco foi secretário-executivo do Ministério da Saúde durante a gestão do general Eduardo Pazuello. Ele também ocupou o cargo de assessor da Casa Civil do ex-ministro general Braga Neto. Nas conversas, ele afirma que o comandante do Exército, general Gomes Freire, estaria “com medo das consequências” de participar da intentona golpista.
“Olha, eu entendo o seguinte: é Virgílio. Essa enrolação vai continuar acontecendo”, disse Franco a Ailton Barros, preso na semana passada suspeito de participar de esquema de fraude de certidões de vacinas contra a covid-19. Ou seja, se refere ao coronel Virgílio, comandante de operações terrestres do Exército.
“O Freire não vai. Você não vai esperar dele que ele tome à frente nesse assunto, mas ele não pode impedir de receber a ordem. Ele vai dizer, morrer de pé junto, porque ele tá mostrando. Ele tá com medo das consequências, pô. Medo das consequências é o que? Ele ter insuflado? Qual foi a sua assessoria? Ele tá indo pra pior hipótese. E qual, qual é a pior hipótese?”, questiona Elcio Franco em insistência por operação de golpe.
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“Tribunal de Nuremberg”
O coronel explica o receio, e cita até o Tribunal de Nuremberg, que julgou as lideranças nazistas ao final da Segunda Guerra Mundial. “Ah, deu tudo errado, o presidente foi preso e ele tá sendo chamado a responder. Eu falei, ó, eu, durante o tempo todo (inaudível) contra o presidente, pô, falei que não. Não deveria fazer, que não deveria fazer, que não deveria fazer e pronto. Vai pro Tribunal de Nurenberg desse jeito. Depois que ele me deu a ordem por escrito, eu comandante, da Força, tive que cumprir. Essa é a defesa dele, entendeu? Então, sinceramente, é dessa forma que tem que ser visto.”
Na conversa, Ailton chama o Alto Comando do Exército de “merda”, diante da inação para deflagrar o golpe pretendido. “(É preciso convencer) o general Pimentel. Esse Alto Comando de merda que não quer fazer as porras. É preciso convencer o comandante da Brigada de Operações Especiais de Goiânia a prender o Alexandre de Moraes. Vamos organizar, desenvolver, instruir e equipar 1.500 homens.”
Na semana passada, vieram a público conversas do entre o ex-major Ailton Barros e o tenente-coronel Mauro Cid. Nas mensagens, Ailton disse que era preciso pressionar o general Freire Gomes para aderir ao golpismo. Inclusive, disse que “se for preciso, vai ser fora das quatro linhas”. Além disso, sugeriu utilizar as Forças Especiais do Exército para prender o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.