Em 2020, quando o deputado estadual Major Araújo despontava como o grande nome da direita bolsonarista para a disputa da Prefeitura de Goiânia, um outro nome, ainda mais radical à direita, corria por fora, sem tempo de propaganda na TV, mas com sua voz ampliada “silenciosamente”, pelas interações nas redes sociais e nos aplicativos de conversação: o professor e empresário Gustavo Gayer, então filiado ao DC.
Naquele ano de pandemia, ele havia ganhado notoriedade ao detratar um protesto de profissionais da enfermagem na Praça dos Três Poderes, em Brasília, no feriado de 1º de Maio, que pediam melhores condições de trabalho. Tão sem provas como sem informação, ele dizia basicamente que aquilo era uma manifestação arranjada contra o governo federal, com pessoas pagas para, inclusive, “fazer o papel” de médicos.
Também crítico feroz do governo de Ronaldo Caiado (União Brasil), em sua primeira empreitada eleitoral, Gayer caiu no gosto de quem prezava a antipolítica por essência. Na hora do voto, a recompensa: o 4º lugar, com surpreendentes 45.928 votos, ou 7,62% dos votos válidos, mais do que o dobro do alcançado pelo nome “oficial” da direita – Major Araújo, que fez 20.935 (3,38%).
Dois anos depois, pelo PL de Bolsonaro, ele confirmou a fama de “bom de voto” e se elegeu com facilidade para a Câmara dos Deputados, com 200.586 votos, atrás somente da apresentadora Silvye Alves (União Brasil) e como o mais votado de seu partido, sendo fundamental para a sigla ter conseguido a maior bancada goiana, com quatro cadeiras.
Na semana passada, o Jornal Opção divulgou com exclusividade que Gayer será o candidato de Bolsonaro a prefeito de Goiânia, com a promessa de gravação de vídeo já para a pré-campanha.
Nada mais natural. Bolsonaro aposta em quem lhe é mais próximo e opta pelo caminho da contestação limítrofe, fora do âmbito da política convencional, na qual, apesar de seus conhecidos arroubos, ainda estão nomes como Major Araújo e Delegado Waldir.
Qual a chance de um candidato com o perfil de Gustavo Gayer ser bem-sucedido numa corrida eleitoral para a capital goiana? Antes de falar de Bolsonaro como seu suposto trunfo na eleição municipal, é preciso ver o que Gustavo pode fazer por si mesmo.
Vários candidatos de direita já naufragaram em Goiânia e em Goiás depois de serem apontados como surpresas no pleito. Foi o caso de Demóstenes Torres em 2006, para o governo; do recordista de votação para a Câmara dos Deputados, Delegado Waldir, em 2016, para a Prefeitura de Goiânia; e do já citado Major Araújo, em 2020.
É que, para eleição majoritária, o buraco é muito mais embaixo. Ainda que Gayer esteja animado – e não poderia ser diferente – com seu índice conquistado em 2020 com custo de campanha praticamente zero. As estruturas de campanha contam bastante, bem como as máquinas dos governos estadual e municipal, que com certeza não estarão com o bolsonarismo.
Mais do que isso, é preciso entender que a eleição municipal acontecerá ainda em um ano e meio, momento em que, olhando de hoje, nada se pode dizer do poder de influência de Bolsonaro e sua trupe a não ser que será uma incógnita.
