Em entrevista ao jornalista Kennedy Alencar, do É Notícia, na Rede TV, e, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a necessidade de implementação de políticas sociais, com a responsabilidade fiscal, tradição em seus dois mandatos anteriores, crescimento da economia e sobre o imenso potencial de crédito de carbono gerado a partir da preservação da Amazônia.
“Eu quero um país com responsabilidade fiscal, econômica, política e social. Para tudo isso acontecer, nós temos de fazer o país crescer”, disse Lula ao longo de pouco mais de uma hora de entrevista. “Eu só posso fazer uma dívida se for para construir um ativo produtivo que vai trazer retorno, melhorar o crescimento.”
O presidente citou como principais medida de seu governo para a geração de emprego o aumento do salário mínimo, a correção da tabela do Imposto de Renda e a aprovação da reforma tributária. “Nós vamos fazer essa economia voltar a crescer e gerar empregos com carteira profissional assinada, que é o que interessa para o trabalhador.”
Entre as preocupações do presidente da República está a necessidade regulamentar o trabalho por aplicativo porque “parece que são pequenos e médios empreendedores, mas quando quebra um carro, uma motocicleta, eles percebem que não têm nenhum programa de seguridade social”.
Antes de falar sobre o “mercado”, Lula relembrou a situação econômica que deixou o Brasil quando deixou a Presidência em 31 de dezembro de 2010.
“O Brasil era a sexta economia do mundo, a Organização das Nações Unidas havia reconhecido o fim da fome, o país tinha aumentado o salário mínimo todo ano.”
E elencou os desafios que enfrenta após quatro anos do governo Bolsonaro para falar sobre como entende que deva ser a reação do mercado quando fala em desenvolvimento social com responsabilidade fiscal.
“Seria muito importante que o mercado estivesse preocupado em ajudar a economia crescer. Você passa embaixo de uma ponte e vê uma mulher com criança dormindo. Aquilo é culpa do governo? Não. Aquilo é culpa do Estado brasileiro e o mercado faz parte do Estado brasileiro.”
Nas palavras do presidente, o “é esse país que o mercado precisa entender, que eu só posso construir se houver responsabilidade fiscal, mas também tem responsabilidade social, porque, entre o mercado e as pessoas que estão com fome, não me perguntem, obviamente eu vou fazer a opção para tirar o pessoal da fome”.
Neste cenário de enfrentamento para retomada do crescimento, o Banco Central precisa explicar o que justifica ter hoje uma taxa de 13,75% ao ano, já que não há inflação de demanda, com a população comprando em excesso. “Eu vou fazer uma reunião com alguns empresários e bancos para discutir com muita seriedade a taxa de juros nesse Brasil.”
Lula relembrou que durante seus oito anos na Presidência, Henrique Meirelles teve completa liberdade mesmo não existo uma lei de autonomia do Banco Central. “O que acontece é que a gente conversava e o Brasil deu certo. Hoje esse país está dando certo? O povo está melhorando, não!”
O presidente fez questão afirma que o Brasil não precisa de arrocho fiscal para cumpri meta de inflação. “Nós fizemos uma meta de inflação de 4,5%. Com 4% de inflação e crescendo, esse país vai embora”. Nesse cenário, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) tem importante papel, emprestando dinheiro para estados e empresários, pequenos, médios e grandes.
Para Lula, esse cenário de volta à normalidade de crescimento e social passa pelo combate a fake news disseminado pela extrema-direita em cima de valores como pátria, costumes e religião. “No Brasil, não estávamos acostumados a fazer campanha baseada na mentira.”
Lula acredita que a solução para as notícias falsas passa por um debate com a sociedade que deve ser feito em nível mundial, reunindo especialista e meios de comunicação. “O discurso da direta no mundo inteiro é pátria amada, costumes e religião. Os setores progressistas precisam construir uma narrativa para desmontar esse discurso de atraso.”
Lula também criticou o processo de desconstrução da política a partir da operação Lava Jato. “Quando se critica a política, o que acontece é um Bolsonaro, um genocida, é uma pessoa que vendeu o ódio durante quatro anos.”
Outros temas importantes da entrevista foram pandemia de Covid-19, genocídio contra o povo yanomami por conta de ações, omissões e incentivo ao garimpo ilegal nas terras yanomamis. “Eu acho que Bolsonaro em algum momento vai ter que ser julgado por genocídio não apenas no caso da Covid, mas do que aconteceu com povo yanomami.”
“Eu acho necessário punir Bolsonaro porque ele foi um presidente que se colocou contra cientistas, contra todo mundo que clamava para que se comprasse vacina rápido e ele preferiu comprar cloroquina e falar que quem tomava vacina virava jacaré”, afirmou.
Em relação à tentativa de golpe de estado praticada por bolsonaristas em 8 de janeiros, quando terroristas destruíram os prédios dos Três Poderes, Lula acredita que era um plano para 1º de janeiro que só não aconteceu por conta do grande número de policiais e de pessoas nas ruas. “Eu tenho certeza que Bolsonaro participou ativamente do golpe. Esse cidadão é um psicopata.”
No entanto, Lula defende que Bolsonaro seja condenado depois de um processo com justa defesa. “Eu não quero que faça com ele o que fizeram comigo, que vá para cadeia e depois prove a inocência. Ele cometeu crimes e precisa responder.”
Após dizer por diversas vezes durante a campanha e depois de ser eleito que não concorreria a uma reeleição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já admite que pode sim ir mais uma vez para a disputa se houver necessidade e se tiver saúde para isso.
“Tinha consciência de que era o único candidato com condições de derrotar o Bolsonaro em 2022. Se chegar um momento, em uma situação delicada e se eu tiver saúde, eu posso (concorrer em 2026)”, disse Lula ao final da entrevista ao jornalista Kennedy Alencar, da Rede TV e do portal “Uol”.