O Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, 20 de novembro, é uma referência à morte de Zumbi, um líder do Quilombo dos Palmares, que foi o maior do país e chegou a alcançar em torno de 20 mil habitantes, conhecido historicamente como símbolo de resistência negra.
A data, entretanto, só foi instituída oficialmente pelo Governo Federal no ano de 2011, por meio da lei nº 12.519, ou seja, muitos anos depois dele ter sido assassinado pelos bandeirantes, fato que ocorreu ainda em 1695.
Mais do que uma conquista a ser celebrada, trata-se de um dia para refletirmos sobre temas como a diversidade e a discriminação racial, que devem ser debatidos diariamente para que realmente possamos promover mudanças.
Mas não podemos nos enganar: ainda há um caminho longo a ser percorrido para que nossa sociedade seja mais inclusiva, uma vez que muitos preconceitos estão enraizados há anos na cultura brasileira.
Logo, é importante promover e valorizar a influência africana, que está presente nas religiões, gastronomia, política, vocabulário, educação e danças, por exemplo. Por isso, a conscientização é tão necessária.
Afinal, qual é a importância da representatividade? O conceito de representatividade tem origem na política. No sentido mais simples da palavra, representatividade é a expressão dos interesses de um grupo, na figura de um representante. É um falando em nome do grupo.
Mas, esse termo abrange mais do que isso. A representatividade influencia na formação da identidade dos indivíduos daquele grupo.
Ou seja, quando uma pessoa negra chega à presidência, o cargo mais importante, em uma potência como os Estados Unidos, se permite criar a subjetividade na identidade de pessoas negras que outros podem chegar lá também, ou ocupar outros cargos de destaque.
Falar em representatividade negra é falar sobre a representação de pessoas que, muitas vezes, são ignoradas, seja pela mídia, pela política ou pela sociedade como um todo.
A representatividade é importante justamente por inspirar outras pessoas negras a ocuparem posições de poder e reivindicarem seus espaços, tanto no mercado de trabalho quanto em outros locais.
Infelizmente, o mercado de trabalho também pode ser um ambiente de preconceito, principalmente para as pessoas negras. Mesmo nas grandes empresas, é possível perceber a ausência de negros e, quando presentes, costuma ser em cargos mais baixos e/ou menos remunerados.
O racismo não vem de hoje, mas infelizmente, permanece atual. Existem gestores que pregam a diversidade e, ao mesmo tempo, dizem que a contratação de um negro é sinônimo de “nivelar por baixo”, como vimos recentemente.
Em geral, a diferença é gritante e é perceptível quando uma empresa tem uma maioria de colaboradores brancos. Em relação à posição que ocupam nas instituições, os negros raramente estão nas lideranças.
O estudo Desigualdades Sociais por Cor ou Raça, do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), apontou que uma mulher negra ganha 44% do que recebe um homem branco. Para os homens negros esse número é de 56%.
Mas as desigualdades no ensino brasileiro contribuem para que essa divergência ocorra no mercado de trabalho. Conforme os dados da Síntese de Indicadores Sociais 2019 do IBGE, dos 25,2% dos jovens brasileiros que cursavam ou haviam concluído o ensino superior em 2018, somente 18,3% eram negros, contra 36,1% brancos.
De acordo com uma pesquisa realizada pelo portal VAGAS.com, evolvendo 52,4% de usuários negros e 43,3% brancos, os negros só estão em número maior em trabalhos operacionais ou técnicos.
Ainda, os cargos de direção são ocupados por apenas 0,7% dos negros participantes, enquanto 2% dos brancos eram diretores. Em posições operacionais, por outro lado, a representação foi expressiva, de 47,6%.
Por fim, havia 3,4% de negros como gerentes, 3,5% em um cargo sênior e 6,3% trabalhando como júnior, sendo que 8,3% são supervisores ou coordenadores de uma equipe. Já o número de brancos é 7%, 6%, 7% e 11%, respectivamente.
Para promover a diversidade nas empresas e garantir que todos tenham oportunidades, é imprescindível que gestores e o departamento de RH estejam preparados para acolher qualquer tipo de pessoa na equipe sem discriminação, independentemente de gênero, sexualidade ou cor da pele.
Isso não vai acontecer sem que haja um treinamento de todos os colaboradores para conscientizá-los sobre as práticas de diversidade. E, obviamente, a prática precisa ser efetiva e não uma ação de marketing.
Existem milhares de personalidades negras que poderíamos mencionar, justamente porque são muitos os nomes de pessoas que têm e tiveram uma atuação marcante. Aqui, citaremos 10 pessoas que fizeram (e fazem) a diferença em suas áreas profissionais e são exemplos da importância da representatividade. Vamos conhecê-las?
Mineira nascida em 1914, Carolina Maria de Jesus faleceu em 1977, deixando como legado uma extensa contribuição para a literatura, música e poesia brasileiras. Seu livro mais conhecido, “Quarto de Despejo: Diário de Uma Favelada”, foi publicado 17 anos antes de sua morte.
Sendo uma das primeiras escritoras negras do país, os textos de Carolina são lidos mundo afora e servem de estudo para acadêmicos até hoje. Como mulher negra, ela venceu barreiras e demonstrou enorme resiliência durante sua vida.
Considerado um dos brasileiros mais influentes do mundo pela Organização das Nações Unidas (ONU), Lázaro Ramos é famoso internacionalmente por sua carreira como ator, apresentador, cinegrafista e escritor de literatura infantil.
Baiano, decidiu ser ator aos 15 anos e perseguiu seu sonho, tendo sua primeira experiência no Bando de Teatro Olodum. Mas seu reconhecimento vai além das fronteiras: em 2007, foi indicado ao Emmy por interpretar Foguinho na novela Cobras & Lagartos.
Stacey é política e advogada, graduada em Direito pela Universidade de Yale. Em 2018, ela concorreu ao cargo de governadora pelo estado da Geórgia e, mesmo não tendo vencido, luta há seis anos para registrar milhares de cidadãos e garantir a eles o direito ao voto.
Nesse sentido, ela foi a responsável pelo registro de mais de 800 mil eleitores, sendo 49% pessoas negras e 45% com menos de 30 anos. Com uma ativa atuação política, ela escreve obras de ficção e não-ficção.
Kamala foi a primeira procuradora-geral negra da Califórnia e primeira mulher com origem asiática a ocupar um lugar no Senado. Agora, é a primeira mulher a ser vice-presidente dos Estados Unidos.
Com uma mãe indiana e um pai jamaicano, sua presença reforça a importância da diversidade em cargos altos. Ela é bacharel em Artes, pela Universidade de Howard, e em Direito pela Universidade da Califórnia.
Primeiro candidato negro a ser eleito presidente dos Estados Unidos, Barack Obama formou-se advogado pela Harvard Law School e também foi o primeiro editor afro-americano da revista Harvard Law Review.
Em sua trajetória profissional, foi organizador comunitário, advogado em defesa dos direitos civis e professor de direito constitucional na Universidade de Chicago. Como presidente, ele promoveu os direitos dos negros e de outras minorias, como a população LGBT e os imigrantes.
Filósofa, escritora, acadêmica, feminista, mulher e negra — Djamila Ribeiro é mestra em Filosofia Política pela Universidade Federal de São Paulo e uma das maiores referências em ativismo negro atualmente, tendo forte presença nos meios digitais.
No ano de 2016, foi nomeada como secretária-adjunta de Direitos Humanos e Cidadania da cidade de São Paulo pelo então prefeito.
Fundadora do quilombo urbano Aparelha Luzia, criado para estimular as produções artísticas e intelectuais, Erica Malunguinho é educadora, ativista, artista plástica, mulher trans, negra, pernambucana e atua como deputada estadual em São Paulo.
Além disso, é mestre em estética e história da arte pela Universidade de São Paulo. As muitas palavras que a definem provam que o lugar de uma mulher trans e negra é onde ela quiser estar.
É provável que você não tenha ouvido falar no nome Katherine Jhonson, mas ela foi uma importante matemática, física e cientista espacial negra, que contribuiu para o desenvolvimento de várias aplicações da computação na NASA.
Lá, ela era uma líder técnica, onde presenciou e contribuiu com momentos históricos, como a chegada do homem à Lua. Foi considerada uma das cem mulheres mais inspiradoras e influentes pela BBC, em 2016.
A nova diretora de Marketing da Netflix é uma mulher negra e já passou por outras grandes empresas, como Endeavor, Apple, Uber e PepsiCo. Ela é graduada em Inglês pela Wesleyan University e, desde então, vem trabalhando na área de publicidade e propaganda.
Sua contratação nos mostra que pessoas negras devem assumir cargos de liderança e como isso é positivo para as organizações.
Natural do interior da Bahia, Milton é até hoje um dos grandes nomes do país. Atuou como geógrafo, escritor, cientista, professor universitário, jornalista e advogado, tendo formação em Direito.
Além disso, fez seu doutorado na França, na Universidade de Estrasburgo, e recebeu seu diploma com uma tese sobre o centro da cidade de Salvador. Crítico do sistema capitalista vigente, foi o primeiro e único geógrafo da América Latina a receber o prêmio Vautrin Lud, ainda no ano de 1994.
Agora que conhecemos um pouco mais sobre essas personalidades negras que tiveram trajetórias marcantes, compreendemos a importância da representatividade e que o mercado de trabalho para minorias precisa mudar.
Para continuar a aprender mais sobre o tema, confira esse outro conteúdo e entenda a importância da diversidade nas empresas!