A grande política, de estadistas da estatura de Lula da Silva, do PT, não se faz com mágoas e vinganças, e sim com perdões e a arte de agregar.
Porque não se disputa eleição apenas uma vez na vida. Lula da Silva, por exemplo, disputou seis eleições para presidente da República, entre 1989 e 2022. Perdeu três e ganhou três.
Na disputa de 2022, Lula da Silva venceu o presidente Jair Bolsonaro (PL), numa votação apertada: 60.345.999 (50,9%) contra 58.206.354 votos (49,1%). Um beicinho de pulga, como dizem os políticos.
O Brasil perdeu a Copa do Mundo de 1950 para a seleção do Uruguai, no Maracanã, por 2 x 1. Os gols foram de Schiaffino e Ghiggia, para o Uruguai, e de Friaça, para a Seleção Brasileira.
O que se está dizendo é: não importa se o resultado foi de 7 a 1 ou de 2 a 1. O que importa é o título, a vitória. Porque, 72 anos depois, pouca gente sabe (o redator desta nota não sabia, e teve de pesquisar no Google), qual foi o placar do jogo.
Então, o resultado da disputa de 2022 tende a ser esquecido. Será lembrada apenas a vitória de Lula da Silva.
Porém, futebol e política, apesar da fuzarca ser semelhante, são diferentes. A votação gigante de Bolsonaro sinaliza que, do ponto de vista político-eleitoral, Lula da Silva terá de trabalhar para esvaziá-lo, e já vem fazendo isto com desenvoltura. Mesmo antes de assumir, o petista está se agigantando, recebendo novos apoios, inclusive de bolsonaristas, como o senador Vanderlan Cardoso, do PSD. O presidente da Câmara dos Deputados, Arhur Lira (pP), está louco para se tornar “petista honorário”. O ministro Ciro Nogueira (pP)certamente já sonha com Lula da Silva e os cargos do governo federal.
Entretanto, o capital político do bolsonarismo permanece alto. Portanto, Lula da Silva não poderá dispensar apoio. Frise-se que o bolsonarismo elegeu o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, além do senador, Marcos Pontes. Carla Zambelli e Eduardo Bolsonaro, do PL, foram os segundo e o terceiro deputados federais mais votados do Estado. Em Brasília, Damares Alves, bolsonarista-raiz, foi eleita senadora. O senador Jorginho Melo foi eleito governador em Santa Catarina.
O poderoso bispo Edir Macedo, da Igreja Universal e da TV Record, estendeu a mão para Lula da Silva e a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, reagiu jogando pedras.
A reação de Gleisi Hoffmann é compreensível, porque a maioria dos dirigentes evangélicos jogou pesado para tentar eleger Bolsonaro.
Mas o tempo cura “feridas”, diz o vulgo. Lula da Silva precisa considerar que os evangélicos não devem ser tratados com preconceito. Primeiro, porque merecem tanto respeito quanto os católicos, independentemente das ideologias políticas dos dirigentes das igrejas. Segundo, porque os evangélicos representam uma força política cada vez mais incontornável. Não dá para ignorá-los nem dispensá-los.
Lula da Silva, em nome da governabilidade, terá de procurar os deputados e senadores evangélicos menos radicais. E vai fazê-lo. Porque o petista-chefe é inteligente e, politicamente, está muito à frente de vários de seus aliados. Ele sabe que precisa começar a enfraquecer Bolsonaro já agora, e não apenas em 2026. E, para fazer isto, precisa agregar, ampliando sua base política.